sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Manobras e veneno - o agressor torna-se a vítima

O Governo, ao lado dos grandes grupos económicos, preparam a velha táctica utilizada pelas classes dominantes quando encurraladas. O capitalismo não só não dá a necessárioa resposta aos problemas actuais da Humanidade, como os agrava e aprofunda a cada dia que passa, como os comunistas vêm prevendo que sucederia há muito.

A intervenção dos comunistas é uma intervenção de massas (há tempos escrevi sobre isso fazendo uso da frase de Dimitrov) e não uma intervenção de células desligadas do sentimento popular, não de aventureirismo. Os comunistas, por todo o mundo, rejeitam o terrorismo e a destruição indiscriminada de meios,m infra-estruturas ou bens e apostam todas as suas capacidades na dinamização da capacidade criativa dos povos, na elevação da sua consciência. A violência utilizada numa revolução socialista, como dizia Lénine, será apenas aquela que for exigida pela burguesia. Os trabalhadores têm tudo a ganhar com uma revolução sem destruição e com utilização dos meios instalados, mas não podem alimentar a ilusão de que a burguesia abdicará passiva e pacificamente dos seus privilégios e do seu domínio.

Está em curso uma campanha ideológica de ataque desbragado às organizações dos trabalhadores, às suas acções de luta. Para compreendermos o comportamento táctico do Governo perante estas organizações e acções (principalmente, Partido, Sindicatos, Greve) devemos conhecer, por exemplo, as tácticas de Hitler, as tácticas dos fascistas portugueses, e outras similares. O caldo de cultura e a situação social em que ascendem é sempre de acentuada degradação, de decadância económica. Mas os fascistas e o capital sabem que para conseguir consolidar os seus privilégios carecem do apoio popular ou pelo menos da benevolência das massas perante a sua cartilha ideológica, ainda que baseada na mentira e na dissimulação.

Hitler, e aqui Salazar reproduziu as técnicas, lançou a ideia de que os comunistas eram responsáveis por actos de instabilização social, por actos de terrorismo e acabou por atear o parlamento em chamas para acusar os comunistas e assim ilegalizar o Partido que representava a alternativa a uma República doente (Weimar). Na mesma noite, Hitler conseguiu o apoio político para ilegalizar o Partido Comunista da Alemanha, a perseguição bárbara dos dirigentes e militantes comunistas e a elevação das SS de milícia partidária a força de autoridade do Estado. 

A situação que atravessamos em Portugal é de profunda instabilidade, de violência escondida atrás de fatos e gravatas e de falas mansas. É uma situação de elevada complexidade social e política mas podemos afirmar que é caracterizada também por uma acção governamental ao serviços dos monopólios, nacionais e transnacionais. e ao serviço da constituição de novos monopólios, activamente. É, portanto, senão uma política de reconstrução do fascismo, pelo menos uma política de reconstituição da política económica do fascismo. Na minha opinião, uma não existe sem a outra e a verdadeira face de uma política económica fascista não tardará a revelar-se também numa política de autoritarismo para assegurar o capitalismo monopolista de estado.

Sobre a táctica da direita e da burguesia, julgo útil descrever sucintamente as movimentações que antecedem as operações de "shock-and-awe", choque e espanto, no mundo político, que muitas vezes têm expressão militar ou policial.

1. A situação social degrada-se por sobreacumulação capitalista. O fosso entre pobres e ricos torna-se absolutamente incomportável;

2. Os grandes grupos económicos temem o ascenso organizado das massas e ligam-se cada vez mais intimamente ao Governo e ao Estado;

3. O Governo, porta-voz das preocupações dos grupos monopolistas, lança o odioso da situação sobre os bodes expiatórios, geralmente os próprios trabalhadores que lutam, ou seja, deflecte a responsabilidade dos seus crimes responsabilizando as vítimas que legitimamente se defendem. O problema do país, no plano subjectivo, deixa de ser resultado da acção desastrosa do capital e do governo que o serve e passa a ser a consequência da greve, da manifestação e da acção dos comunistas;

4. O Governo e o capital introduzem notas provocatórias em todos os discursos e documentos oficiais, instigando o ódio de classe que pode mais tarde converter-se em ódio racial, sexual, cultural, etc.. Da mesma forma, o Governo e o Capital, com o incondicional apoio de franjas da pequena-burguesia radicalizadas e de fachada socialista, introduz agentes provocadores nas acções de massas e desestabiliza o curso da luta, desvirtuando os seus efeitos, marcando negativamente a luta junto das camadas expectantes da população;

5. Provoca-se violência, actos de terrorismo isolados ou inseridos em movimentações de massas, actos de vandalismo sem sentido, sem objectivos, e responsabiliza-se a organização dos trabalhdores, principalmente a sindical e o Partido;

6. Perante o medo (espanto - "awe"), depois do "shock" entretanto generalizado entre as camadas intermédias e camadas expectantes da pequena burguesia e mesmo do proletariado, justifica-se a força do Estado, a limitação da acção sindical, da democracia, mais tarde a ilegalização do protesto e do Partido, como inimigo da estabilidade social.

7. Fundem-se assumidamente monopólios e Estado, os grupos económicos assumem em todas as frentes o controlo do Estado e da política económica e social, constitui-se o fascismo.

Não presenciei em tempo da minha vida nenhuma ditadura fascista, mas para aqueles que julgam afastado de vez esse risco tenho apenas duas notas a colocar:

a) em Outubro de 1932, a Alemanha esteve à beira de dar início à construção de uma sociedade socialista. As forças sociais-democratas contribuiram para que tal não se concretizasse e abriram o caminho que Hitler viria a trilhar para a chancelaria. Embora os comunistas tenham alertado para a disputa entre Nacionais-Socialistas e Nacionais-Alemães, e para o risco de uma ditadura fascista, as forças da social-democracia e as camadas inetrmédias afastaram por completo essa hipótese e muitos afirmaram que era impossível que a Alemanha, país europeu e com direitos e liberdades consolidadas, viesse a ser dominada pelo nazismo ou qualquer espécie de fascismo. Em Fevereiro de 1933, arde o Parlamento. Um mês depois, Hitler sobre a chanceler.

b) o fascismo não se anuncia como regime desumano, assassino, cruel e carrasco. A construção de um regime autoritário faz-se com base na mentira, na dissimulação e na manipulação das massas. Significa isto que, para todos os efeitos, quem espera que uma eventual reconstrução fascista se faça por uns tipos envergando um programa de assassinato e morte, bem pode esperar sentado pois o comunista alerta deve estar atento ao engravatado, ao fingido democrata, aos que usando a democracia a destroem, aos que afirmando a europa permitem a colonização do país, aos que usando a bandeira nacional, escondem no negro coração uma única bandeira: a do cifrão. E essa bandeira tanto pode ser uma suástica como estrelinhas dispostas em círculo sobre um fundo azul.

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