sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fernanda Câncio - a propagandista de serviço.

Ainda que a emoção quase me tolde a objectividade e me estimule a adjectivação do trabalho e comportamento de alguns seres rastejantes, tentarei dar algumas notas sobre o que tem sido o papel de Fernanda Câncio, nas diversas colunas ou panfletos que vai escrevendo militantemente contra o PCP.

Hoje, depois de ter assumido o estandarte do mais arcaico, linear e simplista anticomunismo, Fernanda Câncio torna a utilizar as linhas de que dispõe para escrever sobre o PCP. Curiosa opção, dada a situação que atravessa o país. Opção justifcada talvez pelo facto de estar essa "jornalista" de mãos dadas com a política (e os agentes) que tem vindo a destruir o país.

Diz a "jornalista", que já mais não a vejo fazer que artigos de opinião e que, por isso mesmo, passarei a designar como "propagandista", que é mais ajustado; que o PCP é o Partido Zombie. O Partido "morto-vivo" que é o termo português para "zombie".

Para que não perca a linha da resposta que quero dar a essa propagandista de Sócrates, usarei a estrutura do seu texto, para escrever o meu:

1. A propagandista começa por afirmar que o PCP e os seus militantes têm uma espécie de paranóia ou "mania da perseguição" perante a comunicação social dominante e ridiculariza dizendo: "o meu patrão tem bastante mais que fazer que cortar os meus textos e que é um bocadinho desrespeitador do jornalista (...) decretá-lo, sem apelo, capacho". Eu próprio conheço jornalistas que me contam como os seus textos são cortados, estagiários e não só, nas redacções das rádios ou jornais. Mas esses não são, de facto, capachos, são trabalhadores explorados forçados a submeter o seu trabalho a um escrutínio político.
Capacho é que, sem apelo, se presta a usar o produto do seu trabalho para satisfazer os caprichos e desmandos do seu patrão. Ora, é que a diferença entre um jornalista e esta propagandista de serviço é que um tem com o patrão uma relação de explorado-explorador e outro, o caso de Fernanda Câncio, tem uma figura que se confunde com a do patrão. Ou seja, Fernanda Câncio é já uma espécie de capataz do patrão, convergindo nos objectivos pelo simples facto de que se encontra já em concomitância de interesses. O interesse do patrão não é contraditório com o de Câncio, bem pelo contrário. É um tipo de trabalhador conhecido desde há muito: aquele que, por mais ou menos dinheiro ou regalias, passa a defender (com letras em jornais ou com chicotes na mão, consoante a necessidade do patrão) os interesses do patrão. E esse trabalhador é o sabujo, o capataz, o prestável cão-de-fila do patrão. Esse trabalhador é o que renega a sua classe, que decide objectiva e racionalmente servir o patrão, para assim comprar as suas regalias e privilégios.
Com esta primeira declaração e com o conteúdo do seu texto, Câncio, auto-declara-se capacho à vista de todos.

2. Lamento que os jornalistas não comunistas, na sua maior parte, nao possam assumir publicamente a rejeição das palavras de Fernanda Câncio que dizem que "a generalidade dos jornalistas não levam o PCP a sério". Lamento que as dezenas de jornalistas que me ligam, e a outros camaradas a pedir informação sobre toda a situação política (não para publicar a opinião do PCP, mas para compreenderem a situação política - porque sabem que são os comunistas os mais bem informados), que as dezenas de jornalistas que desabafam no final das conversas connosco, admitindo não só os cortes que a edição fará na peça, como a concordância com as análises do PCP, não possam - por não gozar dos privilégios e da proximidade ao patrão de que goza Câncio - vir publicamente acusá-la de falar falsamente em seu nome.

3. "trata-se de um partido que não se inibe de venerar publicamente um autor de crimes contra a humanidade que ombreia com Hitler", referindo-se a Estaline. Além da escolha cuidadosa dos termos, como "venerar", que aponta para a caracterização do PCP como uma espécie de seita político-religiosa, o mais grave é o conteúdo propriamente dito da afirmação de Câncio que comete dois grosseiros erros, autênticos insultos à inteligência de todos os leitores. Por um lado, a comparação absurda e disparatada entre Hitler e Estaline. Com isso, tenta comparar a Alemanha Nazi com a união Sociética, ignorando dever-se à União Soviética e aos 20 milhões de soviéticos que deram a sua vida, a vitória dos povos sobre o nazi-fascismo. E ignorando o facto histórico elementar: se não fosse essa União Soviética que agora acusa, os povos teriam vivido muitos mais anos sob as garras do fascismo (confio que Câncio tem inteligência suficiente para saber perfeitamente que a Segunda Guerra Mundial foi decidida nas frentes orientais e no eixo Alemanha-URSS e não, como nos tentam hoje impingir, num desembarque numa praia normada ou no lançamento das bombas de hiroshima e nagasaki). O outro erro grosseiro reside na afirmação de que o PCP venera Estaline. O PCP e os comunistas não veneram Estaline, como aliás não veneram vivalma ou alma passada. Não embarcam é nos simplismos históricos, na manipulação dos factos, no discurso mainstream. Lenine dizia "só a verdade é revolucionária" e Álvaro Cunhal afirmou: "preferimos perder votos a falar a verdade, do que ganhá-los a dizer mentiras." Por isso mesmo, apesar da propaganda e da distorção que têm feito sobre a história dos povos e da Humanidade, continuaremos a fazer a análise crítica do papel de cada agente político de acordo com o entendimento que temos dos fenómenos e dos acontecimentos. Não deixa de ser espantoso que Câncio não hesite ao acusar Estaline de crimes contra a Humanidade, mas apoie todos os que se vergam perante a mais sanguinária potência da História, a tal que largou as bombas de hidrogénio sobre um povo indefeso, depois de estar decidida a Guerra e o seu desfecho. Os que venceram os nazis são os criminosos, os que largam bombas, ocupam países, manipulam governo, apoiam fascistas, fundamentalistas, são os Paragons da Sociedade.

4. Câncio não poderia deixar de utilizar o inteiro arsenal anti-comunista (que, por sinal, é bastante reduzido) e trazer para o debate sobre o PCP - Partido Comunista Português - a cassete sobre a China e a República Popular Democrática da Coreia. Em primeiro lugar, cabe-me dizer que jamais utilizarei os crimes ou disparates que o Governo do da Eritreia, do Egipto, dos Estados Unidos da América, da Arábia Saudita, da Índia, da Federação Russa, ou de qualquer outro estado capitalista, para acusar Fernanda Câncio por partilhar com eles a defesa do modelo económico. Mas adiante, é reconfortante verificar que os anticomunistas de serviço precisam recorrentemente de trazer ao debate o que se passa noutros países para atacar o PCP, demonstrando que sobre o que o PCP faz, defende e propõe para Portugal não lhes fornece motivo de queixa. Ou seja, perante a justeza evidente das propostas do PCP, a única coisa que buscam para atacar é o estado em que se encontram alguns estados. Mas é revoltante como Câncio chega ao cúmulo de valorizar quem se verga à China porque vê um grande mercado (ou seja, quem se vende por dinheiro) mas atacar sem qualquer compreensão quem defende a China por valorizar os objectivos que o Estado Chinês afirma na ruptura com o capitalismo e na construção do socialismo. Ou seja, que o Governo português seja falso, hipócrita, que se vergue como um pacóvio aos pés do Governo Chinês, ainda vá que não vá - é por dinheiro - mas que o PCP e os comunistas apontem a China como um país que se destaca, sem venerações, nem admirações, mas com respeito, então isso já é inadmissível.
Sobre Cuba e Liu Xiaobo, eu até respondia, mas a ignorância ou estupidez da propagandista é tão flagrante que deixo para a lucidez do leitor o seu julgamento.

5. Uma última nota: o PCP não defende o Governo chinês, cubano ou norte-coreano. O PCP solidariza-se com os povos que ainda hoje resistem ao avanço do capitalismo e que afirmam estar dispostos a construir o socialismo, mesmo num quadro altamente desfavorável no panoram internacional.

A forma absolutamente ofensiva como Câncio se refere ao PCP no final do seu texto fala por si. A propagandista serve bem quem lhe dá de comer e não olha a meios. Faz a devida e prestável ressonância dos ecos do seu patrão, difunde a cultura dominante e é paga por isso mesmo. Lamentável, no entanto, é que seja disto feita a comunicação social portuguesa nas suas altas esferas. Lamentável é que Câncio não recorra a um facto, a um silogismo, a um contexto, mas apenas ao mais viperino e preconceituoso anti-comunismo. Lamentável é que Câncio tenha o privilégio de poder dizer as baboseiras que quer e que querem que ela diga a coberto de ser um suposto jornalismo.

Mas se algo se torna evidente é que aquilo que Câncio considera um "anacronismo" é cada vez mais o Futuro da Humanidade. Pois a cada dia que passa o capitalismo demonstra a sua verdadeira natureza, demonstra a sua veia predatória, assassina, de rapina. Enquanto Câncio se banha nos jacuzzis e bebe o seu champagne, milhões de seres humanos morrem de fome às mãos desse regime democrático, milhares de portugueses vivem no desespero do desemprego, na depressão da falta de meios e recursos; enquanto Câncio se pavoneia pelas festas e exposições do mundo da cultura da elite, milhões de seres humanos vivem sem água potável e acesso a medicamentos, pela mão desse regime democrático que tão vivamente defende. A História, felizmente, fazem-na os povos e não os propagandistas ou quem lhes enche a gamela e a taça de champagne.

E o que me enche de orgulho é saber que todos os que visitam a festa do avante, todos os que conhecem um comunista e com ele trabalham, sabem, reconhecem, que dentro do PCP nada está morto e tudo está bem vivo, que no PCP nada é zombie. Sabem que erramos, como nós sabemos, mas que estamos sempre disponíveis para discutir e corrigir colectivamente os nossos erros. Quem conhece o PCP, quem visita as suas actividades, vê vivacidade, combatividade, abnegação, esperança no futuro. É Câncio quem está morta-viva, é Sócrates e todos os que se rastejam como vermes para garantir as suas regalias enquanto os trabalhadores empobrecem e ficam sem trabalho e sem direitos quem está morto-vivo. E mais breve do que tarde, felizmente, serão apenas mortos. A História, fá-la-ão os vivos!

12 comentários:

Maria disse...

Excelente texto!
Dez vezes Excelente!

Um abraço.

João Valente Aguiar disse...

Meu caro Camarada,

Se o Partido e o comunismo estão mortos como essa gente diz, então para quê dedicarem tantas palavras, tantos textos, tantos (falsos) documentários de um morto? Se há algo que o capital aprendeu é que a luta deles contra os trabalhadores tem, entre outros, um eixo imprescindível de prevenir futuras mobilizações populares. E isso vai desde a aquisição de material bélico e a colocação de equipas de intervenção da polícia em exercícios "anti-motim" até ao factor ideológico: por exemplo, criminalizar o comunismo, deturpar os princípios do marxismo, etc. etc.

Neste contexto de dificílima luta ideológica, parabéns pelo teu arguto e necessário texto.

Um abraço

al-Mansur disse...

Mto bom!!!!

jal disse...

Miguel,
sobre o mesmo assunto:
http://travessadenenhures.blogspot.com/2010/10/mortos-ou-zombies-ca-continuaremos.html

Anónimo disse...

Mas que socialismo é que se está a construir na Coreia ou na China??? O Hitler tb era nacional-socialista, não era?

Anónimo disse...

Caro camarada, este texto fez-me ter muito orgulho em ser comunista...Excelente!!

Mário disse...

Só mesmo a verdade é revolucionária.

Por outra parte, não foi esta senhorita que escreveu um livro chamado uma negra, ou, "a vida de uma negra nos subúrbios"? Depois do racismo implícito, quem é que criou esses subúrbios?
Não escreveu um livro de propaganda, "os paneleiros hão-de morrer todos", aproveitando homofóbicamente o negativismo do estereótipo para vender livros e depois receber, qual lésbica frustrada (o que é pena, por frustrada), 2 prémios arco-iris?
Não foi esta que trocou o vestido do PSD e do Expresso pela sarapilheira de angorá (cheia) do PS?
Não foi também, quem utilizou a zita seabra para se promover, utilizando o PCP como muleta, sem apontar que foi a pópria zita que não quis continuar a formar parte da comissão política, não aceitando outras opções mesmo mais compatíveis com a "doença" que dizia ter?
Que a mesma zita, à revelia do partido, transpirava para os média; jantava em sua casa com o vital moreira e com a 3º via para conspirarem contra o próprio partido?
(valha a insitencia na zita por ter sido com esta que a fernanda saltou para a dianteira da reacção, não fosse a zita que admitia o partido um morto-vivo quando afirmava que ela o que queria era salvá-lo do declínio)

Muito fica por dizer, afinal esta é a tua casa.

Os cães ladram e a caravana passa...

elisio disse...

miguel, isto esta impecavel.

abraco

Sérgio Ribeiro disse...

A rapariga não merecia tanto... mas ainda bem que te fez escrever o que nos deste a ler... embora nem toda a gente saiba ler

Grande abraço

samuel disse...

Tal como o Sérgio, acho que a Câncio merecia apenas duas linhas... mas ainda bem que decidiste escrever este texto!

Abraço.

Anónimo disse...

Que dizer de uma namoradinha por encomenda?

Anónimo disse...

"Opção justifcada talvez pelo facto de estar essa "jornalista" de mãos dadas com a política (e os agentes) que tem vindo a destruir o país. " - Aqui está a prova (coitadita, não sabia de nada): http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-05-11-Fernanda-Cancio.-A-detencao-de-Socrates-foi-um-enorme-choque-para-mim