quarta-feira, 30 de junho de 2010

A conversa da "esperança" e da "confiança"

É recorrente que nos debates televisivos ou parlamentares, o PS atire um conjunto muito reduzido de atoardas contra o PCP para desviar as atenções das questões políticas centrais e para contornar o debate propriamente dito. É já uma marca da retórica pesporrenta do PS a utilização desses artifícios argumentativos para tentar "matar" o debate.

Além da natural e habitual cassete de anti-comunismo primário que, à falta de argumentos, traz para a discussão a caricatura que se faz da construção histórica do Povo Soviético ou outros povos que ousaram um caminho socialista, o PS tem uma outra tese de igual grau de estupidez, mas infelizmente, com igual grau de eficácia.

É moda falar-se de modernidade, passe a redundância, é moda falar-se em "esperança e confiança em Portugal". Assim, o PS costuma acusar o PCP de catastrofista, pessimista, derrotista, etc., afirmando-se a si próprio como o partido portador da "esperança" e do "optimismo". Felizmente, nunca o PCP envereda nessa discussão tão fácil quanto estéril e remete-se às questões políticas de facto, cumprindo a sua obrigação. Aqui, porém, num blog em que o tempo é mais vasto para nos espraiarmos sobre o que entendermos útil, deixo a seguinte questão:

É pessimista quem nos diz que devemos acatar obedientemente o aumento dos impostos, o assalto aos salários, tolerar a concentração absurda e desumana da riqueza, tolerar as mentiras dos políticos e governantes, aceitar a crise como uma imposição supra-estrutural e esperar que passe à nossa custa? Ou é pessimista quem todos os dias empenha todas as suas forças para convocar todos à luta por um país mais justo, mais fraterno e solidário, quem dedica todos os esforços para construir um futuro melhor e faz tudo por tudo para que os portugueses não se conformem e juntem forças para transformar a realidade em que vivem?

1 comentário:

António Aleixo disse...

Mas oh Miguel, não é também verdade que na sociedade em que vivemos é imperativo conferir poder de decisão ao sector privado? Não defendo regimes neo-liberais mas a verdade é que vivemos num e é importante munir os cidadãos de armas que estes possam utilizar.

É selvagem a sociedade em que vivemos mas à falta de alternativas parece-me coerente que se incentive o empreendedorismo do sector privado e se desmistifique o papel do Estado enquanto papá responsável por nos sustentar e sarar todas as maleitas.

Conheces-me a mim e às minhas posições politicas e saberás que preferia ver um incremento do poder público mas se não é nesse sentido que caminhamos é fulcral que todos saibam nele se movimentar. Penso ser urgente, no quadrante actual, desfazer a figura do "não fiz porque eles não me ajudam..."

O Estado deve reforçar o seu papel de coordenador e regulador enquanto incentiva a iniciativa privada.

Claro que nada disto vai contra aquilo que escreveste mas parece-me a mim que o discurso do governo não tem sido tanto o do pessimismo mas sim o de "estamos de mãos atadas e é essencial que todos pensem em formas de gerar riqueza e postos de trabalho".

A mim aflige-me os muitos casos de desempregados que esperam pacientemente que lhes venham oferecer um emprego enquanto recebem os seu subsídios (Tal como eu deves conhecer vários)... Alguns pensarão que se trata do estado a pagar-lhes o que lhes é devido esquecendo-se que estão sim a gastar o seu próprio dinheiro que descontaram durante tanto tempo, fruto do seu trabalho. Ora não seria mais proveitoso vê-los puxar pelos neurónios, desenvolvendo soluções de investimento e negócio com esse mesmo dinheiro?

Eu defendo um maior poder do sector público mas esse pressupõe a contribuição de todos e eu não vejo esse nível de consciência cívica na nossa sociedade, infelizmente...

Abraço,