terça-feira, 16 de julho de 2013

criminoso só se não for poderoso?

O que há de bom na onda inebriada de reacção alérgica ao pensamento, traduzida nas várias fitas trazidas a público por um conjunto de pequeninos filhos da extrema-direita e da direita reaccionária, é a verdade. É que, na fúria disparatada e desorientada com que se manifestaram esses aspirantes a aristocratas dos tempos modernos, acabaram por deixar a verdade ficar nua aos olhos de todos.

Ante a frase que em Abril escrevi no meu facebook, as garras dos meninos - embora com atraso de 3 meses - saltaram cá para fora. 

Escusar-me-ei a justificar a frase, porque me parece evidente o que digo: os direitos são todos resultado de uma convenção - se essa convenção é traída, os direitos claudicam. 

Aproveito apenas para dizer que a frase é um desafio de lógica: "Como esperar de quem não vê respeitados os seus direitos que respeite os dos que o não respeitam ?" Tão somente isso.

Todavia, não posso deixar de dizer que é assim que gosto da direita - sem máscaras e sem falinhas mansas. Vejam como nenhum, mas mesmo nenhum, dos meninos e meninas ultrajados com a "ameaça", dedicou uma só linha a dizer que a "ameaça" era injustificada porque não querem destruir os nossos direitos à saúde, à educação, às reformas, ao trabalho, à habitação. Ou seja, concentram a sua defesa num ataque rasteirinho sem um único argumento que não seja o de se vitimizarem perante o bárbaro deputado comunista ou remetendo ameaças, injúrias e ofensas verbais, sem tentarem sequer dizer, uma vez que seja, que não estão contra esses direitos. Que não os querem destruir.

Atentemos, a uma simples analogia:
"se me deres um estalo, dou-te outro.", nessa oração há uma suposição e uma consequência. Se fosse dito apenas "dou-te um estalo" seria uma manifestação gratuita de violência, sem justificação. No entanto, o "estalo" está condicionado pela existência de um motivo, no caso "primeiro estalo". Ora, quem não quer levar o "estalo" tem apenas que demonstrar que não quer dar o primeiro, ao invés de contestar a legitimidade do segundo.

Ao vociferarem desorientados única e exclusivamente sobre a segunda parte da frase, dão como adquirida e verdadeira a primeira. Na prática, o que estão a dizer: "é verdade que vos queremos tirar todos os direitos, à saúde, à educação, à reforma, à habitação, ao trabalho (e certamente muitos mais) mas jamais aceitaremos que isso justifique qualquer espécie de retaliação." É como um advogado pedir a abolvição de um criminoso, não pela negação dos factos, mas pela indignação perante a sanção.

"O meu cliente roubou, matou, mas não pode ir preso porque é rico."

Mau advogado seria. 

Embora já nada me admire.

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