segunda-feira, 27 de setembro de 2010

a culpa da crise é tua

Os guardiões da "democracia ocidental", que é o mesmo que dizer da única democracia aceitável e possível, aproveitam agora com persistência o tempo passado sobre o estalar da crise económica e financeira mundial para nos ludibriar, usando os seus palcos habituais. Seja através dos diversos canais de televisão, dos jornais ou das rádios, a cartilha prossegue a sua marcha de doutrinação e manipulação do pensamento colectivo. Essa campanha de manipulação está praticamente por todo o lado e tende a afirmar-se com cada vez mais força, na proporção directa do descontentamento popular que também cresce entre os trabalhadores.

A teoria que vai ganhando terreno nas bocas desses "fazedores de opinião" é agora mais requintada. Se nos dias e meses em que estava fresca a memória colectiva sobre as razões e motivos da crise, estas criaturas se retraíram - e algumas chegaram mesmo a ser forçadas a reconhecer as questões estruturais da crise, atacando inconsequentemente o capitalismo, num fingido grito de lucidez e imparcialidade, o momento actual permite-lhes novas ambições.

Um desafio elementar de recuperação histórica, levar-nos-á a situar a explosão da crise actual nos devaneios dos mercados financeiros, na ausência de regulação e supervisão, e na especulação e usura desmedidas. O mesmo é dizer que a crise eclode das característcias motrizes do capitalismo, ou seja, de todos os mecanismos que decorrem da exploração do trabalho e da substituição de rendimentos salariais por crédito. A "desmaterialização da economia" como lhe chamam os seus protagonistas é o elemento fundamental para o colapso financeiro que acaba por se traduzir também nas componentes materiais da economia, nomeadamente através da constatação da sobreprodução e excesso de capacidade instalada distribuída de forma assimétrica, tal como a distribuição internacional do Trabalho o é também.

Todos nos lembraremos, ainda que possamos não compreender, a chamada crise do sub-prime, as falências em massa de grandes grupos económicos, as fraudes financeiras nos Estados Unidos da América, e por aí fora.

Da mesma forma, todos nos lembraremos da forma epidémica como a crise financeira atingiu proporções globais e contaminou a economia europeia e a asiática, precisamente por se organizarem em função dos mesmos objectivos e de acordo com as mesmas leis. Ou seja, todo o sistema capitalista deu de si, num abalo tremendo. No entanto, confrontado com a crise de sobreprodução, com a incapacidade de continuar a gerar - pelo menos durante um certo período de tempo - as mesmas riquezas da mesma forma, o sistema vira o seu ataque para o incremento da exploração. Na situação do capitalista, não existe escolha.

Ou seja, quando confrontado com uma crise desta envergadura e natureza, o capitalismo tem apenas duas escolhas: destruir-se ou acentuar-se. Como a sua destruição não lhe é genética, dada a prevalência da classe dominante e dos seus interesses, resta-lhe agudizar e acentuar os seus mecanismos de exploração e domínio globais.

Daí que nos dias que correm seja habitual ouvir os comentadores da praça, os fazedores de opinião e outros sábios estudiosos e politólogos, economistas vendidos e outros que tais, virem a público acusar o dito "estado social" de responsável pela crise. Vasco Pulido Valente é a personagem-tipo desse tipo de seres abjectos e utiliza a sua coluna num diário de tiragem nacional para afirmar convicto que a culpa da crise é dos privilégios e mordomias que os trabalhadores europeus conquistaram. A culpa é da Segurança Social, do Serviço Nacional de Saúde, do Sistema Educativo e, claro, dos direitos laborais e dos altos rendimentos. Esquece-se porém, VPV como os demais cães de fila do capitalismo, a crise foi gerada, incubada e eclodida no território e na economia mais liberal do mundo, no ventre do capitalismo e do Estado neo-liberal, onde não existem segurança social, SNS, Sistema Público de Ensino, direitos laborais.

É urgente denunciar que o explorador quer culpar o explorado pela crise actual. MAs isso é ainda mais grave num quadro como o que vivemos, em que o poder político e económico nunca passou pelas mãos do trabalhador e esteve sempre nas mãos do patrão. E em Portugal, tal é o descaramento, já vão longe ao ponto de dizer que a crise é culpa do 25 de Abril!

Dia 29 de Setembro vamos mostrar que a crise se combate com a valorização do trabalho, da produção nacional e dos direitos! contra a política de direita, marchar, marchar!

1 comentário:

Jorge Manuel Gomes disse...

Camarada,

Dia 29 lá estaremos na luta de todos os dias, no Porto e em Lisboa.
Nunca como agora foi tão importante ir à luta.