segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A candidatura que se exige apoiar

Em torno dos primeiros ensaios de campanha eleitoral para as presidenciais de 2011 já se vão levantado as teses do sistema, desta vez com o contributo pleno do BE que apoia um candidato dócil.

A imprensa nacional, principalmente os grandes meios de comunicação social já vão criando as bases do raciocínio que alguém quer impor a todos os portugueses. No que toca a Cavaco, é a cantiga laudatória do costume, da seriedade do Dr Aníbal, do branqueamento do seu passado e da promoção da sinistra figura a "Estadista" de grande porte.

Quanto a Alegre, não há quem lhe tire a aura de poeta e humanista, de que o seu ego se alimentar avidamente.

Mas dedico estas linhas à candidatura que interessa, de facto, no quadro da actual conjuntura política portuguesa. A única que interessa porque de facto o que o país e o povo português precisam é de uma assumida e vincada ruptura com o actual estado das coisas, não de políticas cosméticas, não de falas mansas à esquerda ou ao centro. Os ataques à soberania nacional, aos direitos mais elementares dos trabalhadores portugueses encaminham o país para um eminente estado de ruína que recairá, em última análise, sobre os ombros das camadas exploradas e despojadas de outras fontes de rendimento além da venda da sua força de trabalho.

Sobre os dogmas e premissas que nos querem impor sobre a candidatura de Francisco Lopes, gostava de aqui deixar as seguintes linhas:

i. é uma campanha que divide a esquerda e contribui para a vitória de Cavaco na primeira volta.
Esta tese é disparatada em toda a linha, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista aritmético. Quantas mais candidaturas alinhadas à esquerda e capazes de captar mais votos, principalmente vindos de sectores que não se revêem nas restantes candidaturas de esquerda, acrescentam votos contra Cavaco, nunca a favor de Cavaco. Em bom rigor, mesmo que as candidaturas de esquerda se "belisquem" umas às outras (o que é compreensível que aconteça) nunca isso beneficiaria aritmeticamente o candidato da direita, pelo simples facto de que nenhum voto à esquerda é um voto na direita e pela barreira dos 50% que será sempre e em qualquer circunstância ultrapassar para ser eleito. O único voto na direita é a abstenção dos eleitores descontentes, dos eleitores de esquerda. E para isso se alguém contribui não é certamente o PCP nem Francisco Lopes, mas antes aqueles que se fingem hoje de uma coisa e amanhã são outra, descredibilizando a política.

ii. é uma campanha fechada, virada para a promoção interna de um quadro do PCP.
Esta tese revela duas questões importantes. Por um lado, ela mostra que as classes e camadas dominantes não conseguem atacar politicamente as propostas da candidatura e tentam assim, com o apoio amplo do eleitorado do BE (mesmo daquele que não se revê no apoio a Alegre), descredibilizar a sua validade apenas com recurso a argumentos de segunda linha, nomeadamente sobre questões da vida interna do PCP. Reparemos como nesta tese, nada remete para a política nacional, nem para as questões que se possam relacionar com a tarefa a que Francisco Lopes se propõe. Mas esta mentira da comunicação social e dos fazedores de opinião submissos acarreta uma outra dimensão política: insinua que o PCP utiliza uma campanha e uma candidatura com esta importância para o país por motivações exclusivamente próprias. Ora, um Partido que não é capaz - nem quer ser - de mentir ao povo português mesmo quando isso lhe custa votos, que empregou toda a sua vida e história - bem como a de muitos dos seus militantes - à luta pelo povo português, iria agora, numas eleições de tamanha importância no quadro actual, utilizá-las como instrumento partidário.


O que eles não entendem, ou entendem mas não podem mostrar, é que a candidatura de Francisco Lopes é a única candidatura que toca precisamente nos centros nevrálgicos para a mudança. Todos sabem que Alegre, muito embora não se possa comparar a Cavaco, não trará para a política nacional o compromisso e o vigor necessários para romper com a política de direita. Não defenderá com o necessário vigor a Constituição, pois é filho de um partido que a mutila diariamente. E todos sabem que a candidatura de Cavaco é a candidatura que visa no essencial permitir que os parasitas continuem a tomar posse do país, que continue o rumo de destruição da soberania e dos direitos, que continuemos vergados à todo-poderosa UE e ao imperialismo norte-americano. Continuidade na pobreza, na miséria, na guerra, nos baixos salários, nas propinas, na destruição do SNS, da Escola Pública, na acumulação de lucros obscenos e na política de fachada, na democracia amputada. E o que eles sabem, mas não podem dizer é que o PCP assumiu com firmeza e com empenho esta batalha apresentando para estas eleições um dos seus mais destacados quadros dirigentes, assim valorizando e elevando a dignidade da tarefa que disputa e do debate que se travará. Mas também mostrando que o PCP coloca à disposição do país os seus homens e mulheres mais dedicados.

1 comentário:

Manuel Abreu disse...

Sem dúvida, totalmente de acordo. A candidatura de F. Lopes é a única que realmente luta contra as políticas que têm sido praticadas pela direita.
Em tempos cheguei a defender uma convergência da esquerda. Mas a questão é: convergência em torno de quê? Convergência como o que o Bloco anda a fazer à candidatura do Alegre, venerando tudo o que ele diz e faz, esquecendo-se que este nunca irá criticar as política injustas de Sócrates, porque está refém do seu apoio? Nunca poderia dar o meu voto àquela salganhada ideológica.
E, de facto, cada voto à esquerda de Cavaco contribui para evitar a sua eleição à 1ª volta.