A democracia portuguesa é uma democracia corrupta. Corrompida e em degeneração.
A
política é dirigida por personalidades escolhidas que praticam
programas não anunciados e não sufragados, disponibilizando o Estado que
lhes é confiado ao serviço dos grupos monopolistas nacionais e
estrangeiros. É esta a maravilha da democracia burguesa, do regime
semid-democrático que o capitalismo nos impõe e é este o resultado das
amputações e traições constantes a Abril, por PS, PSD e CDS.
A
"legalidade" é determinada, não pela lei, não pela Constituição da
República, mas pela apropriação do sistema judicial e da hierarquia dos
tribunais. A corrupção passa a ser a matriz do funcionamento da
república, desfigurando também gradualmente o quadro normativo, formal,
que determina o que é e o que não é legal. A alteração da lei, seguindo
as formalidades, assenta não poucas vezes no vício moral e na corrosão
do edifício social que origina a norma legal.
A
prova de que a contra-revolução nunca tem o apoio o popular é o facto
de precisar mascarar e dissimular os seus objectivos para os conseguir
atingir. A contra-revolução portuguesa, cujas confissões - embora bem
denunciadas - não são assim tão evidentes e óbvias, tornou ao poder há
36 anos. E desde então que legalmente, "democraticamente legitimada" com
apoio na mentira e na dissimulação, altera paulatinamente o quadro
prático e legal da política. Ainda que sendo donos dos tribunais e dos
órgãos de soberania, não são donos do povo que enganam.
Por
isso, se antes de 74, eram os comunistas quem agia na clandestinidade e
tinham contra si a lei, agora é a burguesia que age na ilegalidade
constitucional.
Essa constatação não justifica a
consideração de que a Constituição da República não passa de um papel,
como por vezes surge. Antes nos convoca para a defesa da legalidade
constitucional, para a preservação das conquistas e para o combate pelo
cumprimento de Abril.
Não é inútil a legalidade, embora não seja a única variável, mas desprezá-la totalmente seria tão errado quanto considerá-la único factor na caracterização da correlação de forças em cada momento.
A
corrupção, a traição ao povo e a mentira para fins de captura do poder,
são elementos habituais na política portuguesa e em todas as
democracias burguesas, sejam elas nórdicas ou africanas. Essa corrupção é
legitimada porque o corrupto é que produz as leis contratado pelo
corruptor, mandatado igualmente pelo povo deslumbrado pelos autocolantes
e pelo noticiário do jornal que é propriedade do corruptor. A
aniquilição da cultura, da educação, da liberdade, funciona como o
elemento que atrasa a tomada de consciência popular, mas não pode
determinar a sua impossibilidade.
Também no quadro
legal, pois, há um estado híbrido, em que a legalidade portuguesa
reflecte ainda uma correlação de forças favorável ao trabalho, mas em
que a prática política e a actividade legislativa vão corroendo,
alterando e reconfigurando a lei, em função das alterações da correlação
de forças que vai pendendo, objectiva e subjectivamente, para o lado do
capital em detrimento do trabalho.
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1 comentário:
Excelente texto. Como de costume...
Bom trabalho!
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