sexta-feira, 25 de março de 2011

Fim da confusão a que chamaram "avaliação de desempenho docente"

A vitória é dos professores.
Finalmente existem condições para que os professores comecem de facto a ser avaliados.

O oportunismo é do PSD, mas o facto de ter acordado, ainda que tarde, merece saudação.

Esclarecimentos ao que por aí se lê:

O PCP e o PSD apresentaram ambos diplomas semelhantes para a revogação do modelo de avaliação, sendo que o do PSD continha um conjunto de normas complicadas de aplicar e que poderiam gerar impedimento de votação.

Os projectos foram ambos aprovados na generalidade. Na especialidade, o PCP apresentou um texto de substituição como proposta de texto final e colocou-o à consideração do PSD, BE, PEV e CDS.

O primeiro subscritor desse texto é o PCP, dado ser o seu autor. O PSD, o BE e o PEV aceitaram subscrevê-lo, ao contrário do CDS que preferiu apenas votar favoravelmente sem o subscrever.

O texto foi votado imediatamente, por votação final global e com dispensa de redacção final e encurtamento do prazo de reclamação por conteúdo para 1 dia a requerimento do PCP.

É o culminar de uma longa batalha, de uma persistente luta e combate dos professores. É uma vitória da Fenprof que conseguiu manter unidos os professores durante todo este tempo. Foi essa luta que obrigou o PSD a inverter a sua posição, de Janeiro (em que votou contra um texto do PCP muito semelhante ao que agora aprovou)para cá.

É tempo de construir um modelo novo. Sem a gume da avaliação a pender sobre as escolas e os professores. Podem respirar. Podem ensinar, que é isso que, sabemos, querem fazer.

Da parte do PCP, estou certo, contem com o apoio firme e empenhado em defesa da vossa dignidade, pois sem ela é a Escola Pública que indigna se torna.

quinta-feira, 24 de março de 2011

"a muita gente"

Às pessoas do meu país, àqueles homens, mulheres, rapazes e raparigas que querem ter o direito a viver num país que responda aos seus anseios, onde o direito a um trabalho digno e justamente remunerado, a uma reforma justa, a um serviço nacional de saúde, a uma escola pública, gratuita e de qualidade, deixo o apelo:

Não importa no que votaste, se saíste à rua em protesto ou se ficaste em casa por desânimo e desalento, não importa se confiaste em Sócrates e agora te sentes traído pela direcção de um Partido que já não é Socialista. O que importa é que, estou certo, confias no teu país, desejas vê-lo com as cores de Abril, impondo uma política diferente aos poderosos que entretanto, tornaram o próprio PS numa espécie de marioneta ao seu serviço, para do nosso país igualmente se servirem.

O nosso país não pode continuar a prostrar-se perante a União Europeia que nos devora, que nos condiciona e nos destrói. O nosso país não pode continuar a ajoelhar-se perante os interesses dos grandes banqueiros, dos grades patrões, dos senhores de dinheiro, como se não tivesse já qualquer réstia de dignidade. São esses que nos devem tudo! Devem-nos todas as fortunas acumuladas à custa dos juros, da usura, da especulação, da apropriação do nosso esforço. Do nosso, porque se apropriam do esforço colectivo dos trabalhadores portugueses, porque te roubam tanto a ti que votas PS, como a mim que voto PCP.

O país não pode continuar a permitir que um punhado de gestores e amigos de ministros continue a receber salários e mordomias que valem por mais do que mil portugueses juntos. Não podemos continuar a aceitar e acatar a conversa do neo-liberalismo, da modernidade, do empreendedorismo, da competitividade, da rendabilidade, do ranking, do spread, da confiança dos mercados porque essa é a conversa que nos leva de derrota em derrota. Essa é a conversa que usam para nos fazer esquecer os nossos princípios. Os nossos, porque também são os de muitos portugueses que votam PS, bem sei. Os nossos princípios: humanismo, fraternidade, solidariedade, cooperação, trabalho colectivo, democracia, participação e pacifismo.

O país não pode continuar a destruir e a sufocar as suas gentes, as suas pescas, a sua agricultura, a sua indústria. Não viveremos de bancos e não comeremos a relva dos campos de golfe. Não produziremos riqueza em call-centers e não garantimos casa a ninguém com especulação.

O país não pode continuar a aceitar as desculpas atrás de desculpas que os dirigentes do PS usam para justificar o adiamento eterno de um projecto de esquerda.

Os homens e as mulheres de esquerda, que anseiam, como eu a um país que se demarque das guerras sanguinárias, que anseiam como eu viver num país cada vez mais justo e mais soberano, mais democrático e menos plutocrático, são hoje convocados a uma luta determinante.

Todos somos chamados a dizer se queremos uma esquerda a sério ou uma esquerda tão moderna, tão moderna, que afinal de contas é igual à direita arcaica. Todos somos chamados e não há forma de evitar. Vamos afirmar que não somos todos iguais, que há opções e alternativas, que é possível inflectir os rumos que têm condenado o nosso país. Que reforçando a esquerda, o próprio PS será forçado a ouvir os seus militantes e votantes, que lhes confiam e confiaram sempre um projecto que afinal de contas é sempre traído.

Viremos por nossas mãos o nosso destino. Eleições por si só não resolverão os problemas do país, mas os seus resultados podem ser um factor determinante para a mudança necessária, de políticas, e não apenas de rostos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Que mais poderia eu dizer?

é preciso denunciar!

e, nunca esperei citar ou linkar o Renato (perplexo fico eu, tanto quanto ficará certamente ele), mas a vida tem destas coisas: ler também aqui.

sexta-feira, 11 de março de 2011

questão meramente académica (porém essencial):

a moção de censura apresentada pelo BE (por motivos ainda desconhecidos) ajudou ou contribuiu para a intensificação da luta dos trabalhadores portugueses, ou em alguma medida a corporizou no plano institucional?

sexta-feira, 4 de março de 2011

12 de março, a justa luta dos jovens, e a latente fascização de camadas populares

É muito importante que não se deixe passar o dia 12 de março sem que manifestemos a nossa intacta solidariedade para com todos aqueles rapazes e raparigas, homens e mulheres que, confrontados com a desvalorização brutal das suas vidas, utilizarão a rua como linguagem.

Porém, mais importante é tornar essa solidariedade em sólidas pontes para uma luta que terá de ser forçosamente mais vasta e mais funda. Os homens e mulheres de hoje são máquinas, ou melhor, peças de uma máquina desumana e desumanizada. Os rapazes e raparigas, independentemente da sua formação e qualificação académica e profissional são utilizados pela máquina como instrumentos para a obtenção de lucro e mais lucro. Essa máquina desumana tem um nome: capitalismo. Os operadores dessa máquina têm rosto: são os grupos económicos, os senhores do dinheiro e os seus lacaios nos governos espalhados pelo mundo.

O carácter difuso, inorgânico, dito apartidário, laico e pacífico da manifestação de dia 12 de março é, por um lado, compreensível, por outro preocupante. Se esse carácter reflecte a capacidade de muitos jovens manifestarem o seu descontentamento, ele também reflecte uma tendência de afastamento da participação democrática, da organização de classe sindical e partidária que nos deve convocar a uma reflexão enquanto comunistas.

Espero que não se confunda o carácter "apartidário" da manifestação com uma tendência "anti-partiária" que vai fazendo escola e que sulca um trilho fascizante. Uma manifestação apartidária é uma manifestação sem organização partidária, mas não exclui necessariamente a participação de membros e dirigentes de partidos. Assim, não conto com hostilidade se participar na marcha de 12 de março.

Os jovens que são triturados, na sua vida económica, social, cultural e emocional, cujas vidas são apenas números neste sistema capitalista, são os legítimos protagonistas desta marcha. Os jovens que não podem constituir família, não por condenação divina, mas por não terem condições materiais para o fazer.

Os jovens que não sabem como será o seu dia de amanhã. Os que se endividam para estudar, os que hipotecam a vida para ter um tecto, os que trabalham hoje aqui, amanhã acoli e os que nem sequer trabalham.

Os jovens que pagaram milhares de euros em propinas para atenderem num balcão de hamburgueria, os que escondem as habilitações para entregar currículos nas empresas de trabalho temporário para não serem considerados "sobre-qualificados".

Os jovens que não decoraram o dicionário de inglês técnico e que se recusam - ou não conseguem - encaixar a doutrina do empreendedorismo.

As jovens que não podem engravidar para não perder o emprego mal-pago. As que não podem engravidar para mostrar que sacrificam a vida ao mero posto de trabalho, sempre para satisfazer o opulento patrão.

Os jovens que abdicam da juventude para sobreviver. Os jovens que, em vez de poderem apoiar os seus velhos pais, vivem dos escassos apoios que estes ainda lhes podem dar.

Estou consciente que são esses muitos dos que ali caminharão em protesto. Mas o mais importante é estarem eles conscientes de que só a luta persistente e organizada, unida em torno de objectivos concretos pode constituir um instrumento de progresso. Porque gritar contra tudo, sem proposta, é o mesmo que não gritar contra nada. E pior, gritar contra tudo, sem organização e sem programa é o primeiro passo do caminho do desespero, do descrédito e da descredibilização da democracia (por mais frágil que seja), e esse é o caminho que se faz terra fértil às sementes fascistas. A xenofobia, o idealismo fascista do Estado puro e do Povo como massa obediente sob o comando de "homens sábios" como Mussolini, Hitler, Franco e Salazar. É o puritanismo falso que reveste as falas dos falsos messias que ganha espaço nestes momentos com a hostilidade aos projectos partidários.

Com isto não responsabilizemos os jovens, mas sim os que ecoaram esta manifestação como nunca fizeram para nenhuma outra, independentemente da sua dimensão. Por exemplo, a de 19 de março que será certamente mais consequente foi completamente silenciada, tal como a manifestação de professores convocada para 12 de março e ignorada pela comunicação social. A comunicação social sabe bem o que promove e como promove.

O problema é que muitos dos que ali marcharão não decifram ainda o funcionamento do Estado e do sistema que os esmaga. Cabe-nos abraçar a luta deles para que abracem a nossa que, afinal de contas, deles é também. Porque ainda que sem o saberem, aqueles jovens vão marchar genuinamente contra o capitalismo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

só se desilude quem se iludiu

e não que eu tenha alguma vez nutrido diferente esperança, mas a cada dia que passa mais me convenço de que a democracia burguesa é um autêntico circo de retórica.

quarta-feira, 2 de março de 2011

uma não notícia para esconder a verdade

O DN online faz uma peça sobre uma suposta posição do PSD, escondendo o real desenvolvimento de um processo político.

Podem ler aqui.


Ora, vejamos a verdade:



Perante a publicação do Decreto-Lei a que o governo chamou de reorganização curricular, o PCP foi o primeiro partido a apresentar uma Apreciação Parlamentar. Segui-se o CDS e o BE.



O PSD foi confrontado com uma situação complexa. Por um lado quis aguentar a política do governo como tem feito até aqui. Por outro foi pressionado pela luta dos professores. No entanto, nunca apresentou apreciação parlamentar a este diploma. O PCP anunciou que iria apresentar um Projecto de Resolução para a revogação imediata do Decreto. O BE fez o mesmo. O PSD, em vez de anunciar que votaria a favor, disse que não iria aprovar as iniciativas do PCP e do BE. Fiquei espantado quando soube que o PSD também apresentará uma proposta para revogação. No entanto, o que importa é que o decreto seja mesmo revogado. Mas também é importante que se conheçam os reais contornos de todo este processo.



E é também importante que se perceba como as notícias e a comunicação social conseguem criar ilusões e, neste caso, atribuir a um partido uma iniciativa que não é sua, mas uma cópia das restantes.