sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

apoiantes do PS buscam apoio nos partidos do sistema

enquanto ouço o sócrates num canal, debitando as enormidades que se podiam esperar dum congresso do PS, verifico noutro canal uma sondagem que pergunta aos apioantes do PS com quem preferem uma aliança em caso de maioria relativa do seu partido após as eleições legislativas.

Não tenho surpresa nenhuma. A maior parte (42%) prefere o Bloco de Esquerda.
30% preferem o PSD e 14.4% prefere o PCP.

Por que será que não fico minimamente impressionado?
Fácil: quem aplaude um discurso como o de Sócrates naquele congresso não pode querer alianças com o PCP. É sintomático que as busquem com quem partilha o estilo: o BE e o PPD.
Também significa que a cassete do Bloco dirigida claramente para os PS's descontentes tem provocado o seu efeito. Que importa revolucionar o sistema se podemos só ganhar eleições não é, oh Louçã?

cá por mim, no meio de tanta tristeza, com coisas destas até fico contente.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

como as coisas são

Os jornais anunciam com naturalidade que existem estudantes a recorrer ao banco alimentar contra a fome enquanto frequentam o ensino superior. ainda dias antes anunciavam que cada vez mais estudantes desse grau de ensino não têm dinheiro suficiente para pagar as propinas.

Agora mesmo, há minutos, vejo nas notícias de um qualquer telejornal que o Banco alimentar contra a fome nunca tivera tanta procura e que cada dia que passa lhe são dirigidos mais pedidos, quer por parte de instituições de caridade, quer por parte de indivíduos ou famílias. E, no entanto, lá vai o banco alimentar dando resposta e satisfazendo os pedidos, para que ninguém se lembre de pôr em causa o sistema e o papel do Estado. E, claro que, sobre o Estado, nem uma palavra que fosse no famigerado telejornal. A crise é fatídica e independente das políticas que têm sido seguidas em Portugal e no Mundo. A fome é incontornável porque é resultado desse mau hábito que as pessoas têm que é o de viverem acima das suas possibilidades. Por isso mesmo, valha-nos nosso senhor que ainda existem instituições com comida para dar e vender, postas em cestos por quem pretende expiar pecados e comprar os melhores terrenos disponíveis nesse paraíso para onde só os afortunados têm lugar. "oremos ao senhor"

Então não existe neste país, Constituição da República? Então não existe neste país quem tenha sido eleito para a cumprir e fazer cumprir? E não existe na ocidental praia lusitana quem tenha a responsabilidade de erradicar a fome e a pobreza?

Parece que não.

Existe sim, quem assine protocolos com as Instituiçoes particulares de solidariedade social, com a Igreja Católica, com os bancos ora beneméritos, ora corruptos.

Não existe quem assegure funcionamento de cantinas universitárias com refeições sociais, nem quem trate de garantir bolsas de estudo que atenuem ou mesmo eliminem as assimtrias sociais.

Não existe quem financie o Ensino Superior como bem para todo o país, pilar da nossa democracia e eixo do nosso desenvolvimento social, cultural e económico.

Mas existe quem entregue milhões aos bancos para eles nos emprestarem o dinheiro para podermos estudar enquanto trabalhamos contratados à peça e ao mês num restaurante de hamburgers ou atrás do telefone no call-center.

Existe quem lute, ainda que silenciado, contra tudo isto. Contra a displicência dos bancos alimentares, contra a complacência das manhãs da tvi e dos programas que exploram os mais humanos sentimentos às velhotas. Existe quem grite que o banco alimentar contra a fome atenua os efeitos de uma política que lhe dá razão de existir. Sim, atenua durante um mês ou mesmo dois. Pode até, quem sabe atenuar os efeitos do capitalismo em uma pessoa, uma vida inteira. Mas agrava-os no longo prazo e em termos colectivos. Porque são esses expedientes, esses mecanismos perversos de caridade que silenciam a luta, olvidam o papel dos verdadeiros responsáveis e escondem o papel dos explorados.

Os explorados não são os coitadinhos a quem se tem de dar algo, são os homens e mulheres de rosto erguido a quem tudo foi tirado pelos mesmos que ora tentam sorrir em festas de beneficiência.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

outra vez

O Projecto de Lei do PCP e o Projecto de Lei do PS sobre Educação Sexual nas Escolas foram hoje aprovados. Uma vez mais a Assembleia da República dá um sinal claro sobre as suas orientações para a Educação Sexual ser finalmente aplicada nas Escolas.

E existem leis desde 1984 - como resultado de uma intervenção parlamentar do PCP que se origina em 1982 - que nunca foram cumpridas.

O PS votou favoravelmente o Projecto do PCP e vice-versa por um motivo muito simples: o Projecto do PS é praticamente uma cópia do apresentado pelo PCP. Uma vez mais, o PCP segue na frente do progresso.

No entanto, caso os governos continuem a boicotar a lei como têm feito até aqui, pouco significado terá este dia de hoje. Esperemos que assim não seja, que esta matéria ultrapassa emoções partidárias: é uma questão de saúde pública e de emancipação humana.

Mas não resisto: o PS sempre se afirma - por palavras e nunca por actos - grande defensor da educação sexual e no entanto tem responsabilidades governativas de grande importância desde 1984 e nunca cumpriu. Pelo contrário, sempre adiou ou contrariou a aplicação da lei. Da mesma forma, tem contribuído muito para o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, encerrado Centros de Saúde um pouco por todo o país, não comparticipa as novas pílulas femininas, não distribui contraceptivos gratuitos, não apoia os jovens no planeamento familiar e por aí fora...

É que, mesmo depois de demonstrada esta boa-vontade, não se podem apagar responsabilidades.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

a degradação

- a propósito da centralização da política nacional em indivíduos, a propósito das declarações de António José Seguro ontem na TV sobre o facto de se ter retirado da sala para não votar a nacionalização do BPN;
- a propósito dos votos contrários à tendência esmagadora no PS, por parte de alguns dos seus deputados;
- a propósito das declarações ontem na tv do candidato do PSD à Câmara Municipal de Odivelas, Hernâni Carvalho.

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O debate parlamentar dificilmente poderá ser qualquer outra coisa além do que realmente é. Uma prova competitiva de oratória que funciona como desculpa para uma democracia empobrecida e para o lateral desfile de vaidades que por ali se passeia ostensivamente. Não é um problema da Assembleia da República propriamente dita, é um problema que reside essencialmente na sua composição partidária e no sistema que acaba por sustentar, o neo-liberalismo económico.

Neste quadro, o parlamento português denigre-se a si próprio sem carecer da ajuda empenhada da comunicação social que, prestável, destaca com prontidão toda a barbaridade que nessa casa se passa e expõe com relevo qualquer merda que se passe na vida dos senhores deputados, desde que seja suficientemente negra e digna de embaraço pessoal. Claro que se deixam de fora as atrocidades políticas que por ali se cometem, que essas não interessam a ninguém, claro que se deixam de fora os verdadeiros crimes que se realizam diariamente na assembleia da república contra o povo português, contra os trabalhadores, as mulheres, os homens e os jovens portugueses.

Temos tido a oportunidade de verificar diariamente os efeitos da política de direita que se abate sobre o nosso país e sobre o nosso povo desde há cerca de 30 anos consecutivos. Mas para esses efeitos pouca atenção têm os jornais, porque mais importante do que isso é saber com quem namora o raio do primeiro-ministro; ou saber se o senhor se sente muito ou pouco ofendido quando lhe chamam mentiroso. Mas isto são trocos da vida política.

Na verdade escrevo para desabafar sobre a campanha de destruição da democracia que está em marcha, centrando no indivíduo o desempenho e a posição política. Cada vez mais se intensifica a campanha anti-partidária, dirigida genericamente contra os partidos políticos portugueses de forma a centrar o desenvolvimento das políticas nos indivíduos, desviando-o do interior dos partidos. A culpabilização não do partido e da sua orientação política, mas da sua função formal e da sua estrutura propriamente dita, pelas falhas e atentados políticos tem um objectivo muito claro que certamente se conjuga com outros, mas que é no essencial o de desresponsabilizar as políticas propriamente ditas.

Aparece não raras vezes o "interesse partidário" como um mal em si mesmo, como que um "interesse oculto" e "mafioso", quando na verdade o "interesse partidário" é o único escrutinável, o único a quem é possível assacar responsabilidades. O anátema lançado contra o "partido", contra a base estrutural da democracia portuguesa, como estabelecida na Constituição, é a forma mais fácil de ilibar os responsáveis pelo estado a que chegámos e, principalmente, ilibar as escolhas políticas que esses mesmos responsáveis, nesses mesmos partidos, têm tomado e aplicado. A demonização do partido em si-mesmo, independentemente da política que pratica, da sua forma de organização, da sua proposta política é a forma mais simples de incluir todos os partidos no mesmo saco, mas é, mais grave do que isso ainda, atacar um dos pilares constitucionais da democracia: os partidos, assim colocando no centro da vida política nacional, a gestão como substituinte da política, o génio individual como substituto do trabalho colectivo, a empresa em vez do partido.

O caminho que seguirá o capitalismo é o da busca de todas as soluções que convenham à classe dominante. Partidos servem hoje, podem não servir amanhã.

Para os indivíduos que se afirmam acima da "manipulação partidária", que se dizem não submissos aos "interesses partidários", importa perguntar que raio fazem em partidos cujos interesses são diferentes dos "interesses colectivos do país e do povo"? Aos senhores que orgulhosamente votam de forma diferente da dos seus partidos na Assembleia da República, por exemplo e que com iosso granjeam fortes apoios no mundo da comunicação social, passando a ser o centro de todas as atenções, importa perguntar:

"como podem orgulhar-se de trair o povo? como podem orgulhar-se de desrespeitar tanto o povo português como o vosso próprio partido? como podem assumir a posição cómoda de sair da sala em votações incómodas? como podem assumir posições contrárias às do vosso partido sem que delas retirem consequências? como podem continuar a enganar tudo e todos, destruindo a imagem do sistema político português?"

É que, no actual quadro, a amplificação da ideia de que o Deputado é o eixo da política e não o Grupo Parlamentar e o Partido em que se insere, faz parte da campanha anti-partidos e anti-democracia. Faz parte de uma ofensiva de desmantelamento da democraica que, infelizmente, se conjuga amiúde com vaidades e egos do tamanho do mundo.