quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Teoria da Conspiração

Logo após o 25 de Abril, o Partido Socialista tornou-se o espaço de convergência dos espoliados do antigo regime fascista e manifestou, principalmente pela prática política e não tanto pelo discurso, um tremendo empenho na reconstituição planificada de privilégios e de monopólios, atacando sem pudor os direitos dos trabalhadores numa estratégia bem delineada a coberto do discurso europeísta e moderno.

O FMI entrou pelas mãos do PS em Portugal para chancelar as políticas de direita, para colocar nos eixos o país e corrigir esse devaneio socialista que seduzia diabolicamente todo o povo.

Passados alguns anos, sempre com governos PS, PSD e CDS, em 2005, o Partido Socialista com Sócrates assume o poder após umas eleições em que o povo português expressou sem equívocos uma rejeição profunda da política de direita de Durão Barroso, Portas e Santana Lopes. Sócrates capitalizou o descontentamento da população, mas também acendeu a sua esperança, conseguindo um forte apoio popular, com grande expectativa na mudança.

Essa mudança não sucedeu e, pelo contrário, Sócrates aprofundou o rumo de Barroso, Portas e Santana a um novo grau de realização. As políticas de direita do anterior Governo não só não foram invertidas como foram agravadas: as privatizações começaram a delinear-se, o código do trabalho foi revisto para pior, encerraram-se 4500 escolas, cortaram-se salários e pensões, encerraram-se postos de correios, serviços públicos por todo o país e dezenas de serviços de saúde.

O mandato de Sócrates era claro: trazer o FMI para Portugal, para justificar o golpe final nas conquistas económicas, sociais e culturais de Abril. A estratégia de Sócrates foi, em todos os momentos, consentânea com tal teoria da conspiração; ora vejamos:

1. Aprovação do PEC, do PEC2 e do PEC3 sempre com o apoio da direita parlamentar.
2. Aprovação do OE2011 com o apoio do PSD.
3. Socialização dos prejuízos do BPN, com o apoio do PSD e CDS - fazendo disparar o défice orçamental para cerca de 8%
4. Apresentação de um PEC4 sem qualquer discussão com os restantes partidos, para gerar propositadamente a crise política.
5. Demissão perante a rejeição de um documento que foi apresentado para não ser aprovado e assinatura de um memorando sobre políticas económicas e financeiras onde apela ao FMI que venha gerir Portugal, apresentando compromissos que vão muito além da primeira versão do memorando da troika e que foi completamente esquecido para branquear o papel do PS.

Os grandes grupos económicos confiaram a Sócrates o papel de colocar o país nesta contingência, de o prostrar de joelhos perante a Alemanha e de o humilhar ante todos os mercados. Sócrates prestou-se solícito a esse papel e soube aceitar quando lhe disseram que estava na hora de ser substituído, pois apesar de muito criticarem a abordagem comunista, sabem os monopólios tão bem como nós que a maioria aritmética não é tudo e que sem uma base social de apoio não há política que se suporte, nem mesmo uma ditadura. Sócrates retira-se com a sensação - e certamente a recompensa - de dever cumprido perante aqueles que lhe pagaram a ascensão ao poder.

Sócrates fez tudo o que tinha de ser feito para que o FMI viesse para Portugal. Depois, ao invés de assumir o seu papel na defesa do interesse nacional (se é que é isso que um dirigente político faz) e assegurar a representação no Parlamento, retira-se para uma vida recatada - em grande estilo certamente - para que os portugueses se esqueçam da desgraça em que nos enfiou. Virá o dia em que os jornais o reabilitarão - quando o capital tornar a precisar dele - e dirão que tudo sucedeu apenas porque Sócrates foi demitido (mentira) e que o FMI só veio para Portugal porque Sócrates não conseguiu aprovar o PEC4 (mentira) e que a política do PS é mais branda socialmente que a do PSD (mentira).

Estejamos nós à altura de pôr fim à conspiração.



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

"o aumento do salário mínimo não é para nós prioritário"

Perante a proposta de aumento do Salário Mínimo Nacional para 515 euros em 2013, apresentada pelo Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, uma ilustre deputada do PSD afirmou assim:

"o aumento do salário mínimo não é para nós [PSD] uma prioridade"

Pudera! A sra deputada, embora eleita pelo povo, está aqui para defender os agiotas, os especuladores, os grandes patrões, a banca que lucra milhões. Para nenhum desses parasitas o aumento do salário mínimo é benéfico, daí ser perfeitamente compreensível que o aumento do salário não seja prioritário para o PSD. Além de mais, sem querer entrar na ladainha anti-parlamentar, não será menos verdade que a sra deputada do PSD leva para casa qualquer coisa como 4000 e tal euros ou mais. Isso significa que leva para casa ao final de cada mês qualquer coisa como 10 salários mínimos, o que a distancia de tal forma da vida dos portugueses que a afasta da realidade dura em que vivem enterrados os portugueses que vivem com um salário mínimo.

Para estas senhoras deputadas, cujas peças de roupa valem cada uma um salário mínimo, de facto, aumentar o salário mínimo nacional, não pode ser prioridade.

O que está mal não é haver deputados, é haver tantos deputados traidores. O problema não está no salário dos deputados, mas na diferença abissal que se verifca entre este e o Salário Mínimo Nacional, por ser esse último tão miserável.