quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Segurança nas Escolas- depois admirem-se

A Comissão Parlamentar de Educação e Ciência aprovou com os votos favoráveis do PS, do PSD, do CDS e do BE um novo relatório sobre a segurança nas escolas. Já no passado ano, todo o processo descrito aqui e aqui deu origem a um famigerado processo de ataque aos direitos dos estudantes, nomeadamente desaguando na aprovação do Estatuto do Aluno dos Ensinos Básico e Secundário.

O PS não supreende, como é óbvio. Basta ler o Relatório no site da comissão de educação que estará disponível em breve, certamente. Das conclusões podem ler-se coisas como:

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Os sistemas de alarmes e de vídeo-vigilância visam a protecção das instalações e sobretudo dos equipamentos, nomeadamente ao nível das tecnologias da informação e comunicação, reforçados no âmbito do Plano Tecnológico da Educação e serão, certamente, um importante factor de protecção para as escolas, não substituindo a existência de outros recursos, nomeadamente humanos e de segurança em cada estabelecimento de ensino. "

ou

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A liderança da escola/Agrupamento continua a ser salientada com um factor determinante para os resultados obtidos, importando concretizar e reforçar o processo de autonomia das escolas, nomeadamente ao nível financeiro e organizacional. Constatamos que as situações e os recursos não são iguais em todas as escolas, o que reforça a orientação de responder aos diferentes contextos, apresentados por cada Escola/Agrupamento, no âmbito da sua autonomia através da correspondente contratualização."

e

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Deve privilegiar-se a componente de natureza lúdico-recreativa e de matriz socializante das AECs-Actividades de Enriquecimento Curricular, evitando a sua disciplinarização"

Além disto, o relatório não faz uma única referência à degradação da qualidade de vida das populações, não menciona o desemprego, a pobreza, o elitismo entre escolas e entre turmas, não refere nem ao de leve a estratégia de desvalorização dos professores, não toca na importância da gestão democrática dos estabelecimentos de ensino.

Uma vez mais, PS, PSD, CDS e BE mostram o que apoiam, o que subscrevem e os conceitos que partilham. Depois admirem-se que venham mais câmaras de vídeo, mais estatutos do aluno, mais diplomas para reforçar a liderança das escolas e outras que tais.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

perenidade vs caducidade

As folhas caducas são aquelas que caem das árvores durante o outono. Nessas cessa completamente a vida, deixando a árvore despida durante cerca de seis meses até que venha uma Primavera. A folhagem perene é, pelo contrário, aquela que, em permanente renovação, nunca deixa a árvore nua.

Rosa Luxemburgo afirmou uma vez que ignorar os desenvolvimentos históricos do movimento revolucionário e voltar a um passado anterior a Marx, não seria apenas voltar ao Bê-À-Bá da teoria, mas seria um comportamento reaccionário em si mesmo. Com outras palavras o disse, mas o essencial é isso e escrevo porque concordo.

A organização sindical é uma das frentes mais importantes do movimento operário e, no geral, do movimento de todos os trabalhadores, independentemente da área da Educação. O movimento, entendido de forma abstracta, foi originando ao longo dos tempos formas concretas de organização e intervenção. No mundo do trabalho, os "espontaneismos", os "aventureirismos" foram dando lugar a uma acção mais consequente, coesa e necessariamente unitária. Cedo os trabalhadores de todos os sectores se aperceberam que a consolidação dos movimentos episódicos era uma exigência, sob pena de nunca serem cimentadas as conquistas pontuais e, pior ainda, de não serem partilhadas as experiências e discutidas democraticamente entre iguais, as exigências e reivindicações.

O "movimento" nessa forma invertebrada foi substituído pela organização perene. O "movimento" estanca como as ondas, a organização persiste como a maré.

Hoje, os individualismos, os esquerdismos, o poder político, tudo fazem para atacar o verdadeiro movimento de trabalhadores e sabem bem que o movimento dos trabalhadores são os sindicatos. Esses sim, democraticamente legitimados, construídos colectivamente, com obrigação de prestar contas a seus associados com regularidade, esses sim, com a merecida e legítima representatividade do sector.

Os "movimentos" como agora tentam chamar a grupelhos auto-nomeados, mais não são que as folhas caducas que pontuam as primaveras, deguarnecendo os invernos. O verdadeiro movimento é perpétuo, é sindicato e partido, que não vira as costas à luta nem nas mais duras tempestades. É uma floresta perene.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Autoridade Nacional

Tendo de nos adaptar às nomenclaturas e taxonomias do sistema, às modernices e particularmente às evoluções do dia-a-dia, a linguagem séria, concreta e minimamente ponderada é substituída por uma vaga, ligeira, facilmente apreensível e falaciosa.

O estímulo à racionalidade crítica deu lugar aos comentadores de política, fabricados na televisão e jornais; a arte dá lugar ao lixo descartável produzido em série nos estúdios de cinema e nas editoras musicais; a cultura é substituída por um culto de consumo irracional e a solidariedade e comportamentos colectivos são substituídos por um insaciável individualismo e competição desenfreada.

A cultura chega-nos mastigada à alma, sem o gosto de um prato gastronómico e bem à maneira de alimentação por soro via intravenosa. A política é tratada como uma novela barata e a disseminação da doutrina é feita de tal maneira que todos nos julgamos esclarecidos sem reparar que mais não fazemos que repetir, qual autómatos, as colunas de jornais e o veneno intoxicante dos marcelos, dos vitorinos, e outros escolhidos a dedo para nos envenenar. Fica-nos bem repetir o que ouvimos, as análises pré-feitas, as colunas de um jornal de referência... dá-nos um ar de indivíduos cultos e não corremos o risco de porem em causa o que dizemos, porque afinal de contas, não são palavras de nossa autoria.

As novas palavras, os novos termos para reproduzir velhos conceitos, as tentativas de branqueamento da realidade, o facilitismo com que nos são apresentados complexos cenários políticos, encaminham-nos para um beco cada vez mais escuro, cada vez mais sem-saída. E no entanto, há quem resista e nos puxe para a rua, para as amplas avenidas do progresso, quem nos alerte e nos organize, connosco, em trabalho colectivo. Sem pretensões de tiradas fantásticas, ou de opiniões de referência, sem pretender protagonismos. A esses todos devemos uma saudação.

Este blogue que hoje inicio não passará nos rodapés das notícias na tv, nem será citado nos jornais de referência. Em primeiro lugar por ser escrito por um comunista e, como todos sabemos, não haver comunistas na blogosfera. Em segundo lugar, por ser escrito por um jovem comunista e esses, como toda a gente sabe, não existem nem na blogosfera nem fora dela, dado que foram declarados extintos por todas as autoridades nacionais. Em terceiro lugar porque aqui não se reproduzirão as cantilenas do costume, as doutrinas do sistema, nem tampouco serão destiladas permissas intoxicantes do raciocínio moderno. Aqui não se promoverá o empreendedorismo, nem a competitividade das empresas e da economia nacional, aqui não se louvará o trabalho das entidades reguladores, nem se defenderá o Estado Mínimo; aqui não discutiremos os valores das acções da EDP, nem defenderemos a liberalização dos serviços; não defenderemos a "formação ao longo da vida", nem a "aquisição de competências"; não clamaremos pela "modernidade" nem pela contratação de "colaboradores"; não apelaremos à flexibilidade dos trabalhadores, nem ao investimento dos estudantes na sua formação.

Por tudo isso nunca seremos um blogue moderno, muito menos um blogue ajustado à realidade, continuaremos remetidos às páginas do passado dos ditos jornais de referência.

Porque achei que as entidades reguladoras já falharam em toda a linha, e estão por isso mesmo algo descredibilizadas, decidi decretar a Autoridade Nacional, novo blogue do disparate saudosista, onde se escreverão as mais ridículas linhas sobre a actualidade. Assim o descreveriam os jornais de referência.