sexta-feira, 13 de março de 2009

Miguel Sousa Tavares

Por vezes lamento não ter muito tempo para escrever. Ainda ontem, enquanto via uns minutos de televisão levei com um chorrilho de asneiras pedantes de um tal de Miguel Sousa Tavares.
O que me irrita nestes "comentadores" de tudo e coisa alguma é que são suficientemente inteligentes para saberem que estão a mentir.

Embora, confesso, no caso deste senhor, eu comece a duvidar. É que regra geral, encomendam estes encartados e iluminados para nos enfiarem com opiniões pela cabeça abaixo, de preferência já mastigadas e prontas a assimilar. Neste caso, isso não é diferente. O MST foi transportado em ombros desde cedo pela comunicação social, mostrado como um apartidário moderado, um intelectual de grande calibre e, essencialmente, um homem sensato que julga tudo por si próprio, fazendo uso da sua potência cerebral.

Mas ou este indivíduo é muito, mesmo muito mal intencionado e não tem outro objectivo senão defender o governo e o sistema tal qual como está, ou então é absurdamente estúpido.

Deixo apenas duas ou três notas.

Com o ar senhorial que lhe é característico, de quem tem um ego muito maior do que o estúdio de televisão onde o enfiam, MST lá vai debitando a cassete de propaganda do governo, com um tom pseudo-independente. Que na educação tudo estava no caminho certo, que pena era o Governo não ter conseguido ir mais longe e que as reformas eram bem intencionadas, etc. Uma vez mais, que os professores não podiam continuar na posição retrógrada de defender a Escola Pública de Abril que isso é coisa do passado, como aliás, é o próprio 25 de Abril.

Também dizia que o governo governava geralmente bem, e que o que havia eram mal-entendidos e incompreensão popular do programa e da agenda reformista do governo, principalmente na área da saúde.

Mas a que mais pasmou, foi a tirada genial sobre a segurança social. Anunciava com desfaçatez e sem pingo de vergonha o tal de MST que estava contente porque daqui a vinte anos os portugueses iam poder receber uma reforma inferior àquela a que hoje têm direito. Eis que o homem se regozijava com o facto de os portugueses num futuro não tão distante, poderem vir a receber de pensão de reforma muito menos do que aquilo que merecem face aos descontos que fazem ao longo de uma vida de trabalho. Mas não era assim tão rude, o homem ainda tem algum requinte. Dizia então que estava contente com esse anúncio dos jornais porque isso era um óptimo sinal, pois a segurança social podia finalmente assegurar reformas e pensões. Porque, segundo ele, antes desta divina intervenção do governo português, a segurança social estava na rota da falência e não tinha condições de assegurar as pensões futuras.

Aqui começamos a questionarmo-nos sobre as intenções de MST. Isto para não termos de questionarmo-nos sobre a sua capacidade lógica. Na verdade, não lhe faltando massa cinzenta, o que lhe falta, e muito, é honestidade. Ora, hoje é mais que sabido e está mais que provado que a chantagem política que o Governo fez em torno da sustentabilidade da Segurança Social foi mero pretexto para cortar nas reformas e pensões e que a Segurança Social apresenta um substantivo superavit, coisa rara nos dias que correm.

Ora, depois de ter sido claramente desmascarada a mentira do Governo, depois de se saber que o dinheiro da Segurança Social (dos trabalhadores portugueses) tem sido usado pelos governos para tudo e mais alguma coisa, para financiar formação profissional, para entregar a bancos e especuladores, para usura, para salvar empresas em apuros, para pagar subsídios de desemprego de falências fraudulentas, etc., vem este MST armado em carapau de corrida dizer que está contente porque as pensões e reformas baixaram para garantir a sustentabilidade da segurança social, depois de se ter tornado óbvio até para quem não quer ver que a segurança social nunca teve problemas de sustentabilidade e pelo contrário, até tem servido como almofada aos governos que gastam o que podem e o que não podem. Aliás, não é por acaso que o Estado é quem mais deve à Segurança Social, acumulando dívidas gigantes devidas aos trabalhadores portugueses. E vem-me aquele tipo que teve uma vida de santo, que deve ter um salário de santo e um PPR divino, que deve ganhar dinheiro à custa das mentiras que diz, gozar na cara dos portugueses que trabalham uma vida inteira para no fim terem uma pensão miserável.

É preciso descaramento. E mais que isso, é preciso desonestidade intelectual e política. Coisa que, por mais que as tvs e jornais queiram, nunca hei-de atribuir a esse senhor.

Aliás, MST estava com um ar muito altivo dizendo estas barbaridades como se toda aquela análise viesse da sua própria cabeça e não estivesse a fazer fretes a ninguém. Mas curiosamente, no canal para que mudei por já não o poder aturar, um analista menos famoso, daqueles mais descartáveis mas igualmente sabujos, dizia exactamente o mesmo, com os mesmo argumentos. Lá se foi a originalidade e a racionalidade "acima de qualquer suspeita" de MST.

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