terça-feira, 11 de setembro de 2012

Resgatar o presente e o futuro com a luta de massas

Estamos em Setembro de 2012, com mais de um ano de ocupação oficial pelos braços administrativos do grande capital internacional - o FMI, BCE e UE - e com a submissão incondicional das força da troika doméstica que nos governa há 36 anos - PS, PSD e CDS.

Estamos em Setembro de 2012 e a recuperação do capital monopolista está numa fase de ascenso acentuado, contando com o apoio cada vez mais expresso do Estado, num curso de desfiguração criminosa do Estado que resultou do 25 de Abril de 1974.

O Partido Socialista, determinante cúmplice da política de direita e de reconstituição capitalista desde 1974, coloca-se agora, perante a destruição nacional, do lado da confusão, lançando desesperança sobre o povo, contribuindo para a continuidade da política que nos corrói a vida , os nossos direitos, que esbulha a riqueza que todo um país cria para a concentrar nas mãos dos poderosos. O Partido Socialista, autor do chamado memorando de entendimento com a troika, o verdadeiro pacto de agressão e submissão imposto aos portugueses, tenta agora demarcar-se dos resultados desse pacto, sem se demarcar da filosofia que o enforma e dos objectivos que prossegue. O que o PS não faz, porque não consegue, é assumir a ruptura com a linha capitalista que domina a política nacional e internacional. Não é possível estar contra a "austeridade" e o roubo estando a favor do Pacto e da perspectiva política que encerra.

O PSD e o CDS esquecem agora, como seria de esperar, as preocupações sociais que fingiam ter durante o mandato de Sócrates e conduzem e aplicam agora uma política de natureza fascista, orientada para a colocação integral do Estado ao serviço do monopólio. A desumanidade e insensibilidade social com que protagonizam este ataque indigno contra o próprio povo é fruto do compromisso de classe que assumem com os grandes interesses, com os obscuros meios da corrupção capitalista, com a exploração e a sua intensificação. Portas e Passos assumem com afinco a tarefa que os senhores do dinheiro lhes confiaram e atacam vilmente os trabalhadores, os jovens e os idosos, roubando e oprimindo, cortando direitos conquistados com a luta e a vida de gerações e gerações de portugueses.

O posicionamento de classe do Governo não é disfarçável e o seu alinhamento com o grande capital é a real causa do seu papel no poder. Não é conciliável o capitalismo com o nosso bem-estar.

A dívida pública cresce, o défice público não se contém, os portugueses estão mais pobres e com menos direitos, a qualidade de vida esfuma-se no dia-a-dia, os pais não têm como cuidar dos filhos, os filhos não têm dinheiro para a escola, os jovens deixam o país, os trabalhadores são forçados a um regime próximo da escravidão e as fábricas encerram, deixando no seu lugar o fantasma daquilo que o país poderia ser mas não é. Enquanto isso, os agiotas, os banqueiros, os senhores da distribuição, consolidam o seu domínio sobre todo um povo, tornando mais sólidos os monopólios.

O rumo que o país toma é o do desmantelamento e destruição. A esperança de muitos converte-se na revolta e na ânsia de protesto. Milhares de portugueses clamam por justiça, protestam como podem e exigem resposta. Milhares de portugueses já lutam há muito e há muito denunciam a marcha de recuperação capitalista que destrói Portugal e a esses agora devem juntar-se os restantes, aqueles que, ainda que tarde, compreendem a perda que testemunham.

Milhares de portugueses, de homens, mulheres e jovens, sentem uma vontade imensa de travar esse rumo, mas não sabem como. O esquerdismo, a extrema-direita, a ilusão verbalista, o anti-comunismo encontram neste caldo de cultura o terreno fértil de que necessitam para dar o seu contributo para a manutenção do capitalismo. A movimentação inorgânica e sem objectivos concretos, a radicalização inconsequente da luta aventureira, convergirão para a criação de uma cortina de fumo entre os trabalhadores e o futuro necessário.
A resposta a uma ofensiva desta envergadura, violenta e organizada, tem necessariamente de ser violenta e organizada.

Tal como os comunistas portugueses afirmaram que não seria possível derrotar pacificamente o fascismo, também agora não será possível derrotar pacificamente o capital, na medida em que o capital não abdicará do domínio que alcançou. No entanto, a violência deve ser estritamente orientada política, física e ideologicamente para o inimigo com a plena consciência de que não pode provocar reacções contrárias nas massas. A ideia de que uma minoria de activistas pode chamar a si a capacidade de transformar a correlação de forças não difere muito das concepções putschistas que os comunistas sempre combateram. A solução para a ruptura e para a construção de um rumo diferente está na capacidade de participação das massas nesse processo. A intervenção das massas, muitas vezes mesmo das que se mantiveram alheias ao contexto político nos últimos tempos, acomodadas e conformadas, será determinante para o sucesso da luta que a sua vanguarda tem travado. A distinção entre a vanguarda e as massas deve colocar-se única e exclusivamente no grau de consciência política, sem que isso sacrifique alguma vez a substituição da participação das massas pela da vanguarda. Esse erro histórico pagar-se-ia caro, não só por prejudicar a construção de um momento de ruptura revolucionária, como poderia criar imensas barreiras a um processo revolucionário, necessário, independentemente da forma.

A ligação às massas, mas acima de tudo, a capacidade de chamar as massas a participar na luta contra a ocupação, contra o pacto de agressão e de submissão, a luta em torno de obectivos concretos e reais, capaz de se afirmar como um passo progressista. Só a luta de massas e só o reforço da organização dos comunistas, bem como da sua intervenção, poderá constituir-se como a força necessária para a inversão do rumo que o capital imprime a Portugal e aos portugueses.

Cada vez mais, as eleições distantes ou próximas, se evidenciam como um processo de plebiscito da política capitalista e se mostram como insuficiente mecanismo para o resgate da nossa soberania. O povo desiludido não deixa de ser povo e o povo abstencionista não deixa de ser povo. Por isso mesmo, não deixa de ser legítimo defender e lutar para entregar o poder ao povo e muito menos deixa de ser legítimo conceber o tabuleiro da luta de classes como um terreno que extravasa em muito o limitado campo eleitoral. A força criadora do povo é ilimitada e não se contém dentro de parlamentos nem em leis ou decretos.

Fazer a luta na rua, nas empresas, escolas, ocupar as fábricas, auto-geri-las, aplicar o controlo operário, a acção directa, ocupar a terra devoluta e cultivá-la, boicotar a autocracia escolar, fazer o poder no terreno, são patamares da luta que se devem ter como horizontes constantes, na medida em que a nosso lado marchem a massas e a sua potência transformadora e revolucionária.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei bastante do teu texto.

Deixo-te só uma questão, em jeito de desafio:

Pois então haverá alguma perspectiva de as massas algum dia "participem nesse processo" e "marchem ao nosso lado" na necessária "luta na rua, nas empresas, escolas, ocupar as fábricas, auto-geri-las, aplicar o controlo operário, a acção directa, ocupar a terra devoluta e cultivá-la, boicotar a autocracia escolar, fazer o poder no terreno", uma ação que "não se contém dentro de parlamentos nem em leis ou decretos.", sem que a vanguarda assuma que tem de dar essa palavra de ordem?

Abraço