Sócrates hoje no Parlamento disse duas vezes que não fossem as suas medidas e Portugal estaria numa situação catastrófica. Disse assim:
- Se não fosse a coragem do governo para tomar estas medidas de austeridade, Portugal estaria numa situação catastrófica.
e mais adiante:
- Se não fosse a nacionalização do BPN, o país estaria numa situação catastrófica.
Além da sobranceria estúpida que subjaz a este tipo de linguagem, que bem denuncia o estilo e o carácter do ser que as profere, esta mensagem cobre-se de significados próximos do terrorismo. É uma chantagem dirigida contra todos os portugueses, que assenta na ideia ridícula dos cenários dantescos por oposição à situação política do país, essa rumando firme ao progresso.
Mas o que hoje julgo importante fazer é o exercício oposto, o de desafiar quem me possa ler a pensar num outro "se".
Diz Sócrates que tem "coragem" para impor ao país e aos trabalhadores as medidas de austeridade, sim... que dito assim até soa a qualquer coisa digna. Um ser austero recorda-nos uma figura rigorosa, uma figura séria, ainda que pouco afável. Austero é manifestamente diferente de miserável, ou de pobre. Imaginemos o que seria o governo anunciar que vai tomar um conjunto de medidas economicistas de estímulo à miséria? Não... austero soa melhor. Mas nada nestes Governos PS e PSD que se passeiam no poder desde há mais de 30 anos é austero. Nada nas vidas opulentas dos seus dirigentes é austero, nada nos favorecimentos aos grupos financeiros é austero, nada no esbulho da riqueza nacional, na destruição do aparelho produtivo, nos roubos aos salários, nos encerramentos de empresas, nas transacções milionárias sem impostos´é austero. Miserável isso sim, é o conjunto das medidas que são impostas a quem vive do seu trabalho.
Portanto, Sócrates não só não é corajoso como é cobarde da mesma estirpe que os restantes parasitas que vivem à custa do trabalho dos outros. É cobarde da mesma índole que os balofos banqueiros, que os prestamistas e especuladores. É cobarde porque usa o poder para favorecer os fortes e atacar os fracos.
Pensemos então, ainda que por dois miinutos, no outro "se".
Para Sócrates, o país viveria momentos trágicos se não fosse a sua austera coragem. Se... Se o Governo português tivesse investido na dinamização do aparelho produtivo, se tivesse apostado no cumprimento da constituição da república ao invés de a delapidar, se tivesse garantido os direitos laborais, impondo regras à exploração do trabalho pelo capital, se o governo tivesse preferido difundir a cultura e garantir a educação, assegurar cuidados de saúde, desporto e qualidade de vida para todos os portugueses ao invés de andar a privatizar tudo e mais alguma coisa, se os portugueses tivessem no Estado um parceiro em vez de um inimigo de classe, em que situação se encontraria o país? É que se fosse esse o "se", então a situação catastrófica em que se encontraria o país seria a que Sócrates construiu. E tudo é relativo, particularmente no mundo dos "ses".
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Excelente texto. Sobre valores, por quem os tem, sobre quem os usa como palavras ocas, vazias de sentido, ou cheias de demagogia e de mentira.
Excelente texto, camarada! De que meu vou permitir fazer uma citação.
Grande abraço
Enviar um comentário