Os jornais anunciam com naturalidade que existem estudantes a recorrer ao banco alimentar contra a fome enquanto frequentam o ensino superior. ainda dias antes anunciavam que cada vez mais estudantes desse grau de ensino não têm dinheiro suficiente para pagar as propinas.
Agora mesmo, há minutos, vejo nas notícias de um qualquer telejornal que o Banco alimentar contra a fome nunca tivera tanta procura e que cada dia que passa lhe são dirigidos mais pedidos, quer por parte de instituições de caridade, quer por parte de indivíduos ou famílias. E, no entanto, lá vai o banco alimentar dando resposta e satisfazendo os pedidos, para que ninguém se lembre de pôr em causa o sistema e o papel do Estado. E, claro que, sobre o Estado, nem uma palavra que fosse no famigerado telejornal. A crise é fatídica e independente das políticas que têm sido seguidas em Portugal e no Mundo. A fome é incontornável porque é resultado desse mau hábito que as pessoas têm que é o de viverem acima das suas possibilidades. Por isso mesmo, valha-nos nosso senhor que ainda existem instituições com comida para dar e vender, postas em cestos por quem pretende expiar pecados e comprar os melhores terrenos disponíveis nesse paraíso para onde só os afortunados têm lugar. "oremos ao senhor"
Então não existe neste país, Constituição da República? Então não existe neste país quem tenha sido eleito para a cumprir e fazer cumprir? E não existe na ocidental praia lusitana quem tenha a responsabilidade de erradicar a fome e a pobreza?
Parece que não.
Existe sim, quem assine protocolos com as Instituiçoes particulares de solidariedade social, com a Igreja Católica, com os bancos ora beneméritos, ora corruptos.
Não existe quem assegure funcionamento de cantinas universitárias com refeições sociais, nem quem trate de garantir bolsas de estudo que atenuem ou mesmo eliminem as assimtrias sociais.
Não existe quem financie o Ensino Superior como bem para todo o país, pilar da nossa democracia e eixo do nosso desenvolvimento social, cultural e económico.
Mas existe quem entregue milhões aos bancos para eles nos emprestarem o dinheiro para podermos estudar enquanto trabalhamos contratados à peça e ao mês num restaurante de hamburgers ou atrás do telefone no call-center.
Existe quem lute, ainda que silenciado, contra tudo isto. Contra a displicência dos bancos alimentares, contra a complacência das manhãs da tvi e dos programas que exploram os mais humanos sentimentos às velhotas. Existe quem grite que o banco alimentar contra a fome atenua os efeitos de uma política que lhe dá razão de existir. Sim, atenua durante um mês ou mesmo dois. Pode até, quem sabe atenuar os efeitos do capitalismo em uma pessoa, uma vida inteira. Mas agrava-os no longo prazo e em termos colectivos. Porque são esses expedientes, esses mecanismos perversos de caridade que silenciam a luta, olvidam o papel dos verdadeiros responsáveis e escondem o papel dos explorados.
Os explorados não são os coitadinhos a quem se tem de dar algo, são os homens e mulheres de rosto erguido a quem tudo foi tirado pelos mesmos que ora tentam sorrir em festas de beneficiência.
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