terça-feira, 30 de novembro de 2010

A grandiosa Greve Geral de 24 de Novembro

A greve geral foi um êxito. Ou melhor, foi um passo em direcção ao êxito. E muitos tremeram com a sua dimensão e com o seu poder. E se muitos se encolheram nos seus cantinhos como ratos, muitos houve que vociferaram de peito cheio - sempre protegidos pela intocabilidade que o regime lhes garante - contra a greve e contra os grevistas. Tudo serviu, no dia 24 de Novembro para atacar a greve. Mas a cassete anti-greve mudou. Se em outros momentos, a linha de ataque mais profunda e sentida era a da desvalorização da mobilização, desta feita isso não poderia servir. Vai daí que jornais e comentadores, patrões e capatazes, reproduziram à exaustão a viperina tese de que a greve é um atentado às liberdades individuais. Talvez não seja de todo mentira: a greve é um atentado às liberdades individuais do patrão para explorar o trabalhador como entende, é um ataque à liberdade individual do burguês que quer ter a estrada desimpedida para o seu mercedes, mas que não pode porque não há transportes públicos a funcionar. É um ataque à liberdade individual de rastejar e ajoelhar perante a ditadura do vale-tudo.

Muito haveria para escrever sobre a greve geral, sobre os corajosos e persistentes homens e mulheres dos piquetes, sobre os trabalhadores que voltaram para trás, sobre os que se juntaram aos piquetes, sobre o frio e a chuva, sobre a polícia, sobre o vinho e as bifanas no piquete dos CTT do Cabo Ruivo, sobre a adesão dos jovens trabalhadores precários no call-center da PT, sobre a paragem das linhas urbanas de comboios, sobre o piquete jovem do CCO da PT do Braço de Prata, sobre o papel dos sindicalistas, dos comunistas, dos jovens, das mulheres resistentes e perseverantes. Muito haveria ou haverá por dizer, sem dúvida.

Mas hoje, reconheço, quero responder a uma provocação sincera dirigida aos deputados do PCP na Assembleia da República pelo já nosso conhecido amigo João Galamba, deputado do PS no seu blog-capacho.

Diz-nos Galamba, em post ilustrado com o título certo (25 de Novembro) que os Deputados do PCP demonstraram bem o entendimento que têm da democracia parlamentar por terem faltado a uma sessão plenária onde se votava o Orçamento do Estado para 2011 e estarem assim, como ele diz, "ao lado dos grevistas". Não diz nenhuma mentira João Galamba e, de certa forma, deixa-me calmo com o seu reparo. Ou melhor ainda, deixa-me mais confiante por saber que os deputados do PCP entendem a democracia como algo muito mais vasto, muito mais amplo, muito mais importante do que a discussão e votação parlamentar. E fico descansado por saber que os deputados comunistas estão ao lado dos grevistas, mas mesmo ao lado, mesmo nos piquetes, mesmo presentes, mesmo solidários, mesmo empenhados, mesmo comprometidos. Estão lá mesmo sem as televisões que preferem falar dos 10 funcionários do BE que deram o dia de salário ao BE para manifestar solidariedade com a greve, ignorando as centenas de funcionários do PCP, os deputados comunistas e os milhares e milhares de militantes, da JCP e do PCP que abdicam do salário para passar mais de 24 horas em trabalho revolucionário, ali ao lado dos trabalhadores que decidiram usar o seu direito à greve para não ver o governo usá-los a eles.

Fico até com um certo sentimento de orgulho por saber que os deputados comunistas, em quem votei, estiveram onde deviam estar no dia da greve, estiveram onde a luta lhes exigia, dignificando o papel de deputado e da assembleia da república, espaço da democracia que, ao contrário do que pensa João Galamba, não se esgota no interior daquelas paredes. Aliás, por oposição, é muitas vezes dentro dessas paredes que a espezinham e matam. Enquanto João Galamba votava o Orçamento do Estado para atacar os direitos de quem o elegeu, o PCP juntou-se aos que o elegeram. Cada um tem uma visão própria da tarefa parlamentar. Fico feliz por estar do lado certo.

É que para João Galamba, ter uma visão correcta do mandato parlamentar é aprovar o contrário do que se prometeu nas eleições, é roubar ainda mais aos bolsos dos trabalhadores. Que é o que ele faz e fez.

Ou será faltar para ir passear, para gerir o gabinete ou o escritório de advogados, ou será faltar porque a ordem de trabalhos do dia não interessava, ou por qualquer outro motivo de igual importância? é que 11 deputados do PCP faltaram para estar presentes na greve e um número muito maior falta todos os dias nas bancadas do PS e PSD para fazer sabe-se lá o quê. Sobre isso, que diz Galamba?

2 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Felizmente, conheço outros Galambas! Um também João, mais novo e nosso camarada, como mais três irmãos, todos de/em Ourém. 4 Galamba a 1 (esse tal...)!

Abraço

Anónimo disse...

Excelente resposta ao Sr. Galamba.
Muitos parabéns!

Lígia