quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os mentirosos

Mariano Gago, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é um governante que nutre um ódio quase irracional pela Academia Portuguesa e, principalmente pela Escola Pública e os seus valores de Abril. Mariano Gago sofre de um síndroma de superioridade sem rival, bem expresso na sua sempre presente arrogância e sobranceria. Para Mariano Gago, qualquer ser humano é dotado de uma capacidade de raciocínio medíocre quando comparada com a sua, verdadeiro colosso da arquitectura biológica.

Ora, Mariano Gago, quando confrontado por um grupo de estudantes com a exiguidade da acção social escolar e com o elevado valor das propinas, responde fazendo uso de uma demagogia rastejante. Mariano Gago, coadjuvado de imediato por Sócrates, anunciam que tudo vai bem no Ensino Superior Português.

Questionável é obviamente a questão que os estudantes decidiram escrever numa faixa que, embora metafórica, terá dado a Mariano Gago a possibilidade de sair airosamente do confronto, com o típico sorriso balofo e pedante que se lhe conhece. Claro que, fosse eu estudante, e ter-me-ia oposto à utilização da personificação das políticas. "Gago, quanto pagaste de propinas?" lia-se na faixa. Isso revela apenas o baixo grau de cultura política e, principalmente organizativa dos estudantes em causa, mas não retira justeza às queixas. Dá no entanto a Gago, a possibilidade de desviar a questão política geral para uma que se lhe coloca pessoalmente. Isso é dar-lhe uma escapatória que Gago jamais perderia.

Ainda assim, desmontemos a lamentável tentativa de justificação de Gago.

Ora, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior a quem cabe, por obrigação, "estabelecer a progressiva gratuitidade do ensino", diz que no seu tempo pagou mais de propinas do que pagam agora os jovens portugueses. E Sócrates diz que há agora mais estudantes no ensino superior, o que reflecte a ausência de peso do valor da propina na massificação e democratização do acesso e frequência. Ambos merecem repúdio e reparo:

a) Tomemos como referência o ano de 1974, ou melhor, Maio de 1974. Em Maio de 1974, foi fixado por Decreto o salário mínimo nacional em 3.300$00 e a propina manteve-se em 1.200$00/ano durante os 5 anos para todos os cursos. Isso significa que a propina representava então pouco mais de um terço do salário mínimo nacional. Actualmente, a propina de primeiro ciclo (apenas 3 anos) fixa-se em 1000€/ano, ou seja, 200.852$00 e o salário mínimo nacional está fixado em 475€, ou seja 90.500$00, quase metado do valor da propina.
Da mesma forma, isto significa que o salário mínimo nacional cresceu (entre 1974 e 2010) cerca de 27 vezes enquanto que a propina cresceu 166 vezes. Ficam por perceber as contas de Mariano Gago. Não irei ao tempo de estudo de Mariano Gago, certamente durante o período fascista, porque não me atrevo a comparar, nem acho minimamente acertado ou sequer honesto, comparar a realidade do regime fascista com a do Portugal após Abril.

b) Quanto a Sócrates e ao seu repugnante exercício de demagogia, quero apenas deixar bem claro que para o nosso Primeiro-Ministro está bem clara a tendência de incremento, por exemplo, de automóveis e meios de transporte individuais: deve-se ao aumento dos preços dos combustíveis! brilhante.
Por não me rever na linearidade da manipulação retórica das conversas, acrescento que bem sei que Sócrates não disse que o aumento do número de estudantes e deve ao aumento do valor da propina, mas disse que se deve ao conjunto das políticas do Governo para o Ensino Superior. No entanto, também isso não é verdade. Na realidade, o aumento é natural tendo em conta a desvalorização do ensino superior, a massificação de cursos de especialização sub-superior e a restantes alterações profundas da realidade e da economia actual que exigem o alargamento da frequência ainda que em condições profundamente adversas. Da mesma forma que uma pessoa continua a ir ao médico ou a comprar comida mesmo que esses produtos ou serviços encareçam, os estudantes vão aumentar a sua participação no ensino superior, mesmo que ele encareça e apesar desse encarecimento, porque o ensino superior constitui uma necessidade cada vez mais premente.

3 comentários:

Crixus disse...

Os governos de Sócrates, sempre com o Mariano Gago, foram dos que mais atacaram o Ensino Superior Público. Com Bolonha, propinas e a sujeição aos interesses do grande capital vão destruindo uma conquista do povo português e põem em causa o futuro do país. Felizmente, a luta dos estudantes não os deixa irem tão longe como gostariam...

Pedro disse...

Posso ter sido eu a ler mal, mas parece-me que houve um engano ao considerar a propina actual metade do SMN. O SMN e que e metade da propina

samuel disse...

Com aqueles dois juntos na mesma sala, o que é que seria de esperar? :-)

Abraço.