quarta-feira, 5 de novembro de 2008

por que nos acusas?

A JS (Juventude Socialista), pela voz do seu próprio Secretário-Geral anunciou aos jornais - e esses prontamente o ouviram, pois claro - que a luta dos estudantes do ensino secundário que decorreu hoje por todo o país e constituindo um estrondoso êxito contra a política de desmantelamento da escola pública que este governo prossegue, era uma manobra política da JCP (Juventude Comunista Portuguesa).

Assim, e para provar a sua tese acusatória (pensa a JS que a JCP usa os seus métodos de instrumentalização do movimento associativo estudantil?) a JS disponibilizou aos jornalistas o contacto telefónico de três militantes dessa estrutura e estudantes do ensino secundário que testemunharam aos jornais o quão contentes estavam com as políticas do governo. Dúvidas houvesse, "João Tiago não hesitou: «somos socialistas, o que o partido achar nós também achamos.», lê-se no JN de 5 de Novembro. Resta que a peça jornalística - tão pobre quanto as declarações do Secretário-Geral da JS, identifique ou pelo menos lance umas pistas sobre quem será João Tiago e por que motivos ouviu tão ilustre figura do panorama estudantil português (ninguém sabe que é esse rapazote, nem o jornal se dá ao trabalho de explicar - provavelmente a rapariga que escreveu o artigo até se tinha dado ao trabalho de explicar, mas o editor cortou a eito pelas linhas adentro e o artigo ficou uma das mais pobres peças de jornalismo que já li).

Mas o que importa é que, exactamente cinco anos passados sobre a maior manifestação de estudantes desde o 25 de abril de 1974, os estudantes do ensino secundário levaram a cabo uma intensa jornada de luta, denunciando que tudo vai mal na escola pública. Afinal, os estudantes quando falam, protestam e não sorriem como os figurantes que o governo contrata para fazer de público nas suas iniciativas de propaganda. Exactamente cinco anos após a manifestação contra a lei do financiamento, protagonizada pelos estudantes do Ensino Superior de todo o país, realiza-se uma grande e mobilizadora luta nacional descentralizada dos estudantes do básico e secundário.

Lugares, lugarejos, vilas e cidades, em quase todo o canto onde se planta uma escola pública, os estudantes, muitas vezes com um trabalho importante das suas associações estudantis, realizaram uma demonstração de democracia verdadeira - participaram!

A JCP, como não poderia deixar de fazer tendo em conta os seus compromissos com a juventude portuguesa, empenhou-se no sucesso desta luta. Orientou os seus militantes do ensino secundário para que contribuíssem para o êxito, para que divulgassem e mobilizassem, para que organizassem e agitassem. Mas acima de tudo alertou, consciencializou e mobilizou outros estudantes não comunistas mas igualmente defensores da Escola Pública. E mais não fez que a sua obrigação. A JCP também saudou a luta estudantil e o seu sucesso incontornável - fê-lo porque sempre o faz quando a luta é justa, fê-lo porque cumpre também assim um dever seu de estar ao lado dos que lutam por um sistema educativo melhor, contra os exames nacionais, o estatuto do aluno, por melhores condições materiais e humanas e pela educação sexual nas escolas. Fê-lo, não com vergonha nem encapotadamente, mas com o orgulho de quem está do lado certo da barricada e com o empenho de quem não se esconde porque os estudantes sabem que não é a JCP que manipula, instrumentaliza e governamentaliza as associações de estudantes.

A JS, em desespero, identificou uma luta que abrangeu 30 mil estudantes por todo o país com a JCP. Com isso a JS despreza o valor da luta, ignora o descontentamento estudantil e usa o velho truque político do anti-comunismo para tentar desvalorizar a manifestação democrática. Os estudantes saberão, como sempre souberam, responder. A seu tempo.

A JS acusou a JCP de estar ao lado dos que lutam, e está. Acusou a JCP de estar com as associações e com os estudantes a defender a escola pública, e está. Por que nos acusas?


Viva a luta dos estudantes!

2 comentários:

Anónimo disse...

Só se fosse por tomar como exemplo a Rosa de Luxemburgo.

A revolução é hoje!

Crixus disse...

Também fiquei revoltado com a atitude da JS (não é que não estivesse à espera). O teu post expressa bem a realidade, a JS tem boicotado a luta dos estudantes e acusa a JCP de estar ao lado dela. Está e há-de estar. Abraço